quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Orgulho

O leitor Daniel Aureliano sugeriu como tema "quando o orgulho atrapalha do desenvolvimento da pratica". Segue abaixo Daniel. Obrigado pela dica.
 
De acordo com pesquisa da universidade de Oxford na década de oitenta, o português figurava entre os 10 idiomas mais difíceis de aprender em todo o mundo. Nova pesquisa realizada no começo dos anos 2000 deixou o português de fora. Não figurava mais nem no top 10. Eu achei um grande equivoco. O português é uma das línguas mais difíceis de aprender. Mas não é por sua gramática – que é complicada, sem dúvida, mas nada fora do comum – mas por suas pequenas exceções e particularidades. Pegue a palavra “manga”, por exemplo. Ela pode se referir a manga da camisa, pode se referir à fruta, pode se referir ao verbo mangar (rir de alguém, fazer troça, zoar) e ainda pode ser associado ao quadrinho japonês (mangá). Como é que uma íngua dessas não é complicada, meu deus?

Mas é no swordplay que a língua portuguesa lança alguns de seus mais interessantes dilemas semânticos. Uma palavra que usamos o tempo todo, mas que pode ser ao mesmo tempo a fortaleza ou a ruina de um jogador ou grupo. Falo da palavra “orgulho”.

Existem duas formas dialéticas de se compreender o Orgulho. Uma delas diz respeito ao “sentimento de prazer, de grande satisfação com o próprio valor, com a própria honra”; a outra versa exatamente sobre  “sentimento egoísta, admiração pelo próprio mérito, excesso de amor-próprio; arrogância, soberba”. Assim, o termo pode ser empregado tanto como sinônimo de soberba e arrogância, quanto para indicar dignidade ou brio de alguém ou de alguma coisa.

Filosoficamente não se pode classificar o orgulho como uma virtude, uma vez que ele não é uma ação voluntária e sim um sentimento. A grande questão é que, como sentimento, muitas pessoas não aprenderam a controlar seus sentimentos e usá-los a seu favor.

Em um primeiro vislumbre não existe nada de errado em se orgulhar de alguma coisa. Você fez uma espada bonita e que todo mundo elogia; o seu grupo é conhecido por luar bem e ser honesto e honrado no campo de batalha; seus colegas são famosos por falarem a verdade. Não, não existe nada de errado em se orgulhar de coisas assim. O problema é quando orgulho vem em excesso. O orgulho em excesso pode se transformar em vaidade, ostentação, e soberba. Isso tudo pode levar o indivíduo (ou o grupo, em alguns casos) ao chamado egoísmo, sendo visto como uma emoção negativa. Uma nova evolução pode realmente acontecer: a passagem do Orgulho para a Arrogância, se ela não o for constantemente patrulhada com nossa Sabedoria.

Neste caso em que se estabelece uma relação entre orgulho e arrogância, ela se torna um tipo de satisfação incondicional. Quando os próprios valores do grupo ou do indivíduo são superestimados levam as pessoas a acreditarem ser melhores ou mais importantes do que os outros. E esse é um sentimento desagregador, que causa cisão entre os membros de um grupo.

Nunca é demais lembrar-se de que nenhum de nós é melhor que todos nós juntos. O fato de eu ter uma espada ou um escudo melhor do que você, não me faz melhor. O fato de eu lutar bem não significa nada além disso, e só deveria ser motivo de satisfação até um limite onde eu posso empolgar os outros ou ensiná-los a serem tão bons como eu.


O trabalho de combater o orgulho no esporte deve vir de todos os lados. Devemos ser vigilantes não apenas com o comportamento do outro, mas com o nosso mesmo a fim de evitarmos que ele deixe de ser um sentimento positivo de auto realização e se torne algo destrutivo. 

2 comentários:

  1. Muito bom o assunto. Podemos levantar também a questão de quando a arrogância da liderança afasta os membros do grupo e mina a vontade dos jogadores mais produtivos.
    E também que, quando o ego e a arrogância impedem um líder de aceitar ajuda de outras pessoas para melhorar o grupo, pois esse líder acredita que só ele faz o certo e ponto final.
    Vamos comentar!

    ResponderExcluir

A Importância da Malícia e da Cautela nas Relações Sociais no Swordplay

Na complexidade das relações humanas, é inevitável que, independentemente de quão bons sejamos e de quanto nos importemos com os outros, sem...