quarta-feira, 4 de junho de 2025

Quer saber a opinião de alguém? Pergunte.

 

Montar um projeto para jovens é, muitas vezes, como se preparar para um duelo de swordplay sem saber qual arma o adversário vai usar. Você veste a armadura, treina os golpes, organiza o campo de batalha... e, quando o jogo começa, ninguém aparece. Ou pior: aparece, mas não se envolve, não se empolga, não retorna. Infelizmente, é o que acontece com muitos projetos voltados à juventude. Mesmo os mais bem-intencionados naufragam porque falham num ponto essencial: ouvir os jovens antes de tentar falar com eles.

Essa é uma armadilha comum. Gastam-se horas elaborando propostas, escrevendo editais, pensando slogans “descolados” e materiais coloridos — mas tudo isso é inútil se o projeto não dialoga com o que realmente interessa à juventude. No caso do swordplay, por exemplo, trata-se de uma atividade que mistura movimento, fantasia, trabalho em equipe e uma certa dose de liberdade criativa. Parece perfeito, não? E, de fato, pode ser. Mas só vai funcionar se os jovens se enxergarem ali dentro. E, para isso, é preciso escutar.

Trabalho em escolas, com alunos e grêmios estudantis, há tempo suficiente para saber que jovem não quer ser plateia de palestra. Eles querem ser parte da construção. Querem espaço, escuta ativa e retorno. Quando você abre o diálogo com sinceridade — sem querer impor, sem fazer de conta que está ouvindo — os resultados aparecem. Já vi propostas ganharem vida nas mãos de adolescentes que, até a véspera, pareciam desinteressados. Basta que eles sintam que a ideia é deles também.

Por isso, se alguém quer montar um projeto de swordplay voltado para jovens — ou qualquer outra atividade — o primeiro passo não é comprar espadas de espuma. É perguntar. Reunir grupos diversos, de diferentes idades, escolas, estilos. Conversar com eles. “Vocês conhecem swordplay?”, “Esse tipo de jogo interessaria vocês?”, “O que poderia tornar isso divertido?”, “Como gostariam de participar?”. Isso vale mais do que qualquer formulário elaborado. A escuta direta é o que transforma boas intenções em ações eficazes.

Quanto mais cedo soubermos perguntar — e, principalmente, ouvir — mais cedo poderemos transformar atividades como o swordplay em pontes reais entre o universo juvenil e as oportunidades que queremos oferecer. Projetos que nascem de perguntas sinceras têm mais chance de virar espada na mão, e não só figurinha em cartaz.

quinta-feira, 29 de maio de 2025

E se ninguém se importa mais?

 É incrível como a nossa percepção a respeito da vida é tão pequena e limitada. Não temos noção de quase nada. O que sabemos vem pelos meios de comunicação, pelas notícias ou por aquilo que damos a sorte de ver no dia a dia. Mas, mesmo essa brutal limitação naquilo que sabemos ou que podemos conhecer, não nos impede de tomar decisões açodadas a respeito do mundo e das coisas que nos cercam. Tomamos a primeira versão daquilo que vemos como verdade universal, dificilmente nos colocamos no lugar dos outros, e muitas vezes não entendemos que aquela pessoa que está à nossa frente pode estar passando por uma série de problemas dos quais nós não temos a menor ideia... E ainda assim, investimos uma grande quantidade de energia, tempo, recursos, e sabe Deus mais o quê, naquela visão de mundo que apenas nós temos.


Para o bem ou para o mal, eu sou um escravo da minha consciência. Faço aquilo que acho que é certo, mesmo que eu demore um pouco.


No meio de 2024, depois do EPS daquele ano, eu lembro de ter comentado em algum lugar que uma das coisas boas do evento foi o fato de que um dos tradicionais grupos do Rio de Janeiro, o DK, não estivesse presente. Às vezes, um evento é bom não pelo que ele tem, mas pelo que ele deixa de ter.


Fui interpelado pela Nati, uma das mais antigas e respeitadas membros do DK, com uma veemência assombrosa. Na época, eu tinha tido uma querela muito grande com o DK do Distrito Federal e não queria ver qualquer um dos seus membros, ou qualquer membro do DK, nem pintado de ouro. E, na minha cabeça, achava que os líderes nacionais que eu conhecia do DK, como Richard e a Natália, que à época eram casados, não apenas sabiam do acontecido, mas fizeram algum tipo de corpo mole.


O tempo foi passando, mas aquela defesa veemente que a Natália tinha feito continuava martelando na minha cabeça, como um sentido aranha que não para de apitar quando tem alguma coisa errada.


Então eu parei e pensei: será que ela ou o Richard sabiam do que estava acontecendo por aqui? Munido de uma dose cavalar de coragem, eu mandei uma mensagem para ela, querendo colocar tudo em pratos limpos.


E a resposta dela foi tão desconcertante que eu me senti até mesmo um pouco envergonhado de ter trazido esse assunto à tona. Em quatro áudios de um minuto, ela me explicou tudo que tinha acontecido na sua vida nos últimos anos: sua separação, sua mudança de vida, o sentimento de traição, como ela tinha se afastado do DK nos últimos anos e, segundo ela, não lembrava de nada do que havíamos conversado. Lembrava de um comentário que trocamos nas redes sociais alguns anos atrás, mas disse que nada daquilo era realmente importante para ela.


E agora vem o pulo do gato: uma coisa que me incomodou por tanto tempo, mas que, para ela, não tinha importância nenhuma.


Isso me deu uma epifania e me fez questionar o que é que eu ando fazendo, o que é que eu ando pensando a respeito das coisas do mundo, como se tivessem uma grandessíssima importância... quando, na verdade, talvez não tenham importância nenhuma.


Minha mãe, uma das mulheres mais sábias que eu já conheci, certa vez me apresentou uma música do Oswaldo Montenegro, chamada A Lista. Um de seus versos martelou na minha cabeça logo depois da conversa com Natália: "Quantos segredos você guardava, hoje são tão bobos, ninguém quer saber?"


Então eu tive o que, na filosofia, nós chamamos de epifania: uma espécie de grande revelação na minha vida.


Será que eu continuo dando importância a coisas que não importam para mais ninguém? Será que eu venho deixando de viver a minha vida por conta de pessoas que não importam mais? Quais serão os segredos que eu guardo que ninguém quer saber?


Munido dessa revelação, fui procurar alguém que conhecia o caso todo e, para minha surpresa, o meu bom amigo Fox, da Magnus Legion, me apresentou uma segunda metade dessa epifania. Não apenas as coisas que eu julgava ser importantes podem não ter importância nenhuma, mas também o outro lado pode ter sua própria verdade — uma verdade à qual eu nunca vou ter acesso. Pelo menos, nunca completamente de verdade. É mais ou menos como o incognoscível das coisas de Immanuel Kant. Mas aí já é filosofia demais para um texto jogado num blog como esse.


É óbvio que a vida segue, e não é porque eu estou questionando esses valores guardados que eu vou baixar a guarda e deixar que volte para minha vida pessoas que um dia me machucaram. Mas parece que, para mim, neste momento, é importante repensar aquilo que eu venho fazendo, com quem eu venho me relacionando e, finalmente, aquilo que eu estou dando importância.


E sem perder de vista que, do outro lado da equação, tem uma pessoa — todo um universo — do qual eu não tenho a menor ideia...

Quer saber a opinião de alguém? Pergunte.

  Montar um projeto para jovens é, muitas vezes, como se preparar para um duelo de swordplay sem saber qual arma o adversário vai usar. Voc...