Eu escrevo sobre swordplay já faz algum tempo. Desde que eu
comecei a praticar o esporte, praticamente. Escrevo sobre todo o tipo de
coisas. Sobre armas, regas, comportamento, estilos de combate, eventos,
práticas, grupos... quase tudo já passou pelas páginas deste blog.
Amanhã eu vou ter o meu primeiro treino desde que tive um “infarto
agudo” – segundo palavras do meu cardiologista e do hospital que cancelou todos
os convites para o meu enterro precoce. Desde esse dia eu tenho pensado muita
coisa. Muita coisa sobre a vida que eu levei até aquele dia, sobre a vida que
eu venho levando desde então, sobre hábitos, posturas, encontros e desencontros.
Pensei a respeito de valores que eu julgava ter. Alguns me abandonaram tão logo
eu entrei na UTI, outros permanecem sobre o meu ombro, como guias invisíveis do
que eu devo fazer e mais alguns ainda resolveram se apresentar e dizer que
vieram para ficar.
Eu estou “em reforma” como diziam as antigas páginas
pessoais da web, antes dos grandes agregadores de gente das redes sociais. Mas
o que eu quero me tornar? Que tipo de esposo, homem, pai, professor, líder de
clã eu quero ser? Eu recebi outra chance da vida que eu tanto agradeço. E não
quero bancar o Napoleão com essa chance.
Quando Napoleão foi encarcerado na ilha de Elba ele ficou
desgostoso e pediu veneno para se matar. Recebeu uma pequena dose e perguntou:
o que é isso? “É seu veneno”, respondeu o pajem. Enraivecido Napoleão mandou
buscar a garrafa inteira. “Uma dose de veneno não bastará para acabar com minha
vida; traga a garrafa toda”. Dito e feito, o ex-imperador recebeu a garrafa e
bebeu tudo. Mas a acidez do veneno atacou seu estômago e, nauseado, Napoleão vomitou
tudo. Passou muito mal nos dias seguintes, mas sobreviveu.
O que uma pessoa normal faria ao ter uma segunda chance na vida
como essa? Provavelmente tudo! Mudaria toda a sua vida. O que fez Napoleão?
Julgou-se imortal, pois nem mesmo uma garrafa de veneno fora capaz de lhe dar
cabo da existência. E o que ele fez depois? Fugiu de Elba, invadiu Paris,
destronou o Rei e governou por mais de cem dias antes de ser novamente
derrotado. Desta vez, em definitivo.
Como eu disse antes, eu não quero bancar o Napoleão. Eu não
quero invadir Paris. Eu quero viver esta nova vida nova que me foi dada aos 43 anos
de vida. Eu amo muitas coisas na minha vida. Mas amo muito mais estar vivo.
Anseio por amanhã. Vai ser um divisor de águas num dos
aspectos mais sérios da minha vida.
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