“Depende”. Sim, se você esperava alguma outra resposta mais
assertiva, me desculpe, mas eu não posso dá-la ainda. Boffer Swordplay como
sabemos é um jogo. É diversão, é educativo, é bom para passar o tempo, é um
hobbie… mas é de elite? O que é ser de elite? De que tipo de elite estamos
falando? É possível que algo assim seja popularizado ou tudo não vai passar de
um nicho de mercado apertadinho entre o animê e os outras tranqueiras nerds da
vida?
Segundo o autor Thomas B. Bottomore, a palavra elite era usada
durante o século XVIII para nomear produtos de qualidade excepcional.
Posteriormente, o seu emprego foi expandido para abarcar grupos sociais
superiores, tais como unidades militares de primeira linha ou os elementos mais
altos da nobreza. A palavra elite evoca hoje em dia uma visão política de uma
classe dominante, superior, com mais recursos. A Elite, de modo geral, pode ser
considerada como um grupo dominante na sociedade. Especificamente, entretanto,
o conceito possui diversas definições.
Uma delas designa aquelas pessoas ou grupos capazes de
formar e difundir opiniões que servem como referência para os demais membros da
sociedade. Neste caso, elite seria um sinônimo tanto para liderança quanto para
formadores de opinião.
Outra forma de identificar uma elite é aproximando-a da
categoria intelectual da classe dirigente. Neste caso, a idéia de formar
opinião pública é substituída pela idéia de construção ideológica, entendida
como a direção política em um dado momento histórico. Sob este aspecto, a elite
cumpriria também o papel de dirigente cultural. A ideologia corrente de um
determinado grupo seria mantida e coordenada, em tese, pela elite deste mesmo
grupo.
Comercialmente falando “Elite” assume uma característica que
indica qualidade e preparação para a vida no mundo capitalista neoliberal que
vivemos. Pessoas que possuem um grau de educação maior que a maioria das outras
pessoas, normalmente associada a um poder aquisitivo maior.
Assim, vejamos se o Boffer Swordplay é um jogo de elite.
Normalmente seus equipamentos são caros. Suas versões de armas mais baratas,
vendidas em eventos de anime ou similares quase sempre ultrapassam a soma dos
20 reais. Clãs, reinos e grupos têm normas de vestuário – coisas que outros
hobbies quase nunca possuem. O fato de precisarem de acessórios como braçadeiras
e peças que se parecem com suas contrapartes medievais, por exemplo, pode
transformar uma inocente partida de fim de semana num gasto que pode facilmente
superar os 300 reais. Tão certo quanto existe equipamentos caros (espadas de fibra
e material importado) também existem suas contrapartes mais econômicas.
Hoje vivemos num mundo onde as pessoas não sabem mais ler.
Ou não sabem, ou não querem, ou têm preguiça. Um bom leitor, daqueles que os
professores de português adoram praticamente está em extinção. Para fazer o
teste basta ir a qualquer escola e pedir que os alunos leiam as páginas de seus
próprios livros. É uma leitura dura, sofrida e cheia de erros. Compreensão do
que foi lido? É raro. Como professor posso atestar a veracidade desses fatos
quando passei um trabalho – uma espécie de ficha de leitura – sobre um filme
que assistimos em sala. “Desastre” é a palavra que me veio à mente quando vi o
calibre da resposta dos alunos. E Boffer Swordplay demanda alguma leitura.
Então, dentro de uma visão mais simples do que temos hoje no
Brasil o Boffer Swordplay é quase uma exclusividade de pessoas que sabem ler e
têm algum dinheiro para gastar com seu hobbie. Não é diferente do
aeromodelismo, da miniaturização, da coleção de selos… a elitização do gênero
depende de quanto você está disposto a gastar com ele.
E no fim das contas o Boffer Swordplay é uma coisa de elite?
De certa forma sim, uma vez que ele não vai, nunca, ser uma coisa para todos.
Em menor grau ele vai ser como o futebol, que tem seus fãs e seus detratores;
que tem seus “CR7” e seus “eu odeio futebol”. O Boffer Swordplay tende para um
seletivismo de seus praticantes, tanto quanto qualquer outro hobbie.
E sendo de elite é possível que ele se popularize? Sim.
Experiências bem sucedidas neste sentido já foram vistas e sentidas no Brasil.
Grupos como o Makkakuh, o Stardust entre outros. Boffer Swordplayers bons,
acessíveis com poucos acessórios e com
um forte apelo “popular” introduzem dezenas de jogadores todos os meses (quando
não temos pandemia). Simplicidade parece ser a palavrinha mágica para fazer um
jogo girar de forma muito adequada. Palavrinha que os veteranos parecem
esquecer ou odiar. Iniciativas dessas pessoas realmente fazem a diferença neste
espinhoso caminho.
O que precisamos fazer – com urgência – é encontrar formas
de popularizar o Boffer Swordplay nos dias de hoje, no atual cenário. Ficar
sonhando com eventos como o Bicoline ou o Battle of the Nations: Brazil é só
isso... um sonho.
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