quinta-feira, 24 de junho de 2021

E a pandemia, hein?

Acho que você sabe, tão bem quanto eu sei que o mundo está afundado numa pandemia avassaladora de um modo que a gente não via há pelo menos 100 anos. 
Diferente de outras pandemias que vivemos no passado, como a gripe espanhola, hoje nós temos uma tecnologia capaz de gerar em menos de um ano vacinas eficazes e remédios que podem nos defender dos efeitos mais malignos desta nova variante do vírus covid. 
Graças a política econômica e sanitária absolutamente desastrosa do governo bolsonaro estamos atrasadíssimos no quesito de vacinação. Menos de 10% de imunizados com duas doses. Recentemente, quando esse texto foi ao ar originalmente, o Brasil bateu a marca triste de mais de 500 mil brasileiros mortos. Projeções indicam que se o Brasil e o ministério da Saúde tivessem comprado as vacinas em tempo hábil, esse número não passaria de 100 mil pessoas.
Mas seria hipocrisia da minha parte colocar a culpa nesse meio milhão de brasileiros mortos exclusivamente na conta do genocida que ocupa atualmente a presidência da república ou seus asseclas. Muitos brasileiros, cidadãos de bem, vizinhos, colegas e até pessoas muito bem intencionados, em quem nós temos depositado grande carinho e afeição, contribuíram de forma decisiva para esse número desastroso e astronômico. 
Quando você vai à uma festa clandestina, quando você ignora os procedimentos de distanciamento social, quando você faz aglomerações sem a real necessidade, você está contribuindo para a disseminação de um vírus mortal que leva à óbito 15% dos seus infectados, lotando UTIs do Brasil inteiro, impedindo que outras pessoas que precisam usar aquelas instalações possam fazê-lo. 
Uma as pessoas que tem nas swordplay comigo é a Jéssika Martins. Além de Bater espadinha como ninguém ela também é enfermeira, especializada em atendimento de emergência, e o relato dela é terrível: "Betão, o plantão da noite passada foi um verdadeiro pesadelo! Não parava de chegar novos pacientes graves e no final do meu plantão passei 45 minutos montada em cima de uma paciente fazendo massagem cardiotorácica para ver se conseguíamos reverter uma parada no coração dela. Depois de 45 minutos de muito esforço aquela senhora veio à óbito. Agora vê bem: uma mulher com um pouco mais de 35 anos, saudável, morrendo assim numa madrugada de uma quarta para quinta-feira, longe dos parentes e dos amigos. Porra Betão, e quando eu saio do plantão vejo pessoas voltando de uma festinha clandestina, fedendo à cachaça e com máscara no queixo. O que é que este pessoal tem na cabeça?"
E por que é que eu tô usando um blog que fala de bater espadinhas de espuma para falar de um negócio desses? 
Simplesmente porque tem alguns grupos de swordplay no Brasil a fora que retornaram aos treinos. É como se essa quantidade absurda de pessoas mortas não significasse nada diante do desejo de bater espadinha com o colega no meio da rua. É como se não houvessem variantes como a Delta (a mais comum n Brasil) ou a Delta Plus que são muito mais infecciosas do quê as que já conhecemos até agora. É como se os hospitais estivessem transbordando de vagas de UTI para atender o pessoal que chega a todo momento com falta de ar. É como se todo mundo já tivesse sido vacinado e estivesse tudo bem. Então, não... não está nada bem!
Não importa o lema que seu grupo tenha. Que tenha palavras como honra, justiça, coragem ou qualquer outro adjetivo viril. Se você ou seu grupo estão de "Volta a treinar" ou mesmo "fazendo eventos" no meio de uma pandemia, como a que estamos vivendo, você está dando um tapa na cara de todos os profissionais de saúde que estão se matando de trabalhar no momento que eu estou escrevendo esse texto, entalado na cozinha da minha casa, de onde eu não saio sem necessidade já tem mais de um ano e meio. 
"Ain Betão, mas aqui é todo mundo maior de idade e cada um cuida da sua vida". O problema é que a doença não respeita só você. Uma pessoa se infecta caminho do treino e acaba infectando os outros colegas. Pode ser que ele não desenvolva nenhum sintoma mas pode infectar o saguão da entrada do seu prédio, ou o elevador. Sem querer, você pode virar infectar aquela senhora que não sai de casa já tem mais de um ano e meio e ela vir a falecer. Você acha que esse é um preço justo apagar por 2 ou 3 horas de exercício aeróbico batendo espada no coleguinha? 
"Ain Betão, mas você já viu o transporte público?" Eu já vi sim, obrigado. Mas eu duvido que as pessoas estejam ali por vontade própria ou por prazer. Eles estão ali para defender o pão de cada dia porque a porcaria do governo não foi capaz de garantir nem vacina nem auxílio emergencial digno para quê ficássemos em casa protegendo aquilo que nós temos de mais valioso: nossas vidas. 
E arriscar jogar essa vida fora, por um prazer fugaz é o que você está fazendo quando coloca o seu grupo para treinar. 
E nem é preciso vir com a conversinha de que vocês estão seguindo todos os procedimentos de segurança. Nas fotos e vídeos que vocês insistem em espalhar pela internet (como se fosse uma grande propaganda) é possível prover praticantes sem Máscara ou se esbarrando. 
Cada vez mais eu tenho desgosto dessas pessoas que se dizem praticantes de swp. O meu grupo não vai voltar a treinar até que seja seguro. E com todo o respeito, foda-se que eu não tenho dinheiro para reformar os equipamentos, ou que vou ficar de fora deste ou daquele evento, o que eu ou o meu grupo vamos ficar fora de forma quando essa bagunça toda terminar. Nada disso vale o preço de uma vida. 
Uma hora como essa é muito fácil culpar os políticos pelo mar de merda que estamos enfiados até o pescoço. Mas vale a pena você olhar em volta e colocar na balança as suas próprias ações para ver o quanto dessa merda saiu do seu cu e da sua boca. 

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