É sábado. Vai
chegando o período da tarde e a agitação na casa de Carlos Henryck, o “Caíke”
não pára. São dezenas – literalmente falando – de espadas, lanças, machados,
adagas e escudos sendo verificados, contados e catalogados. Tudo guardado em
bolsas ou simplesmente amarrado e amontoado no carro da família – que dessa vez
vai dar uma carona para levar os equipamentos até o campo de treino, o PEC
(Ponto de Encontro Comunitário) do Residencial Santos Dumont, na
cidade-satélite de Santa Maria – DF.
Na casa do Erik Lima as agitações começaram ainda mais cedo.
Na quarta feira, para ser exato. É o dia da postagem semanal do grupo,
alertando os membros a respeito do treino de sábado e das dinâmicas que vão
acontecer. Dinâmicas que tinham sido definidas pelo menos uma semana antes.
Assim como Caíke, Erik tem sua cota de equipamentos para levar, mas dessa vez o
carro da família não está disponível. Ele conta com a ajuda de outros membros
do grupo para levar o equipamento até o PEC.
Durante o treino, que começa às duas e meia e vai até às
seis da tarde Caíke e Erik se dividem passando treinos (que eles pesquisaram
durante toda a semana que passou), coordenando atividades, lutando e corrigindo
atitudes de alguns colegas mais exaltados.
Engana-se quem pensa que os títulos de “Cavaleiro” e “Rei” são simples
honrarias pomposas: representam muito trabalho e dedicação em nome do grupo.
Ao final do treino Caíke e outros membros do grupo dos
armeiros dos Cavaleiros da Virtude (Erik e Henrique) vão juntar o arsenal,
recontar tudo, separar as armas que precisam de reparos, empacotar tudo e
depois ir para casa.
Tudo isso sem cobrar nada. Nenhum centavo. Zero. De grátis.
Na faixa. 0800. Tudo isso para um sujeito chegar atrasado no treino, não fazer
nada para ajudar, sentar debaixo da árvore para ficar de conversa fiada e
depois ir embora reclamando que o treino foi “fraco”, ou “uma droga”. Tudo isso
para que um cara que já treina há bastante tempo chegue sem bata, já no fim do
treino porque estava assistindo o campeonato mundial de LOL (League Of Legends
– o maior defensor da castidade e da virgindade desde a fundação da Igreja
católica). Tudo isso para que um cara deixe de ir porque “o sol tá muito quente
hoje”.
Minha mãe já dizia uma coisa muito séria: ingratidão tira
afeição. Quanto tempo será que esse pessoal abnegado vai continuar fazendo o
que faz para que você, que treina sem compromisso, perca o seu grupo?
“Ah Betão, mas eles fazem porque querem! Ninguém os obriga a
gastar o sábado com a molecada!” comenta aquele rapaz com camiseta preta e
cavanhaque trançado. Sim, é a mais pura verdade. Eles fazem porque querem. Mas
não é por isso que você, ou qualquer outro tem o direito de desmerecer o
trabalho deles, seja com comentários estúpidos como esse, seja comparecendo ao
treino para não fazer nada e ainda sair reclamando.
Mas nem pense que é exclusividade dos Cavaleiros da Virtude.
Os “capas pretas” da Ordem dos Assassinos ralam para caramba e não é só no
treino. Se o Lukão e companhia não fizerem o trabalho deles direitinho, não tem
treino. Não vai ter espada, treino, técnica, camaradagem, diversão... nada. E
isso não é apenas no DF: nos grupos como o Kyôdai em Fortaleza, ou na Magnus
Legio de Águas de Lindóia, a realidade é a mesma. Um pequeno grupo trabalha
para valer, mantendo a unidade e a coesão do grupo maior. Em outras palavras,
eles trabalham para que você possa ir lá exibir seu escudo novo ou a sua adaga
personalizada.
E justamente porque nós jogadores recebemos isso de graça na
maioria das vezes, ou pagando valores irrisórios, que ficamos mal acostumados.
Tem gente que não treinaria swordplay se a mensalidade fosse de R$5,00 por mês.
“Não tenho dinheiro”, reclamam em coro o pessoal “mão de vaca” que não tem
dinheiro para treinar, mas não hesitam em gastar R$30,00 ou mais numa única
escapada ao cinema para ver o novo filme da Marvel e engatar um lanchinho depois.
“Mas é o direito deles gastar o dinheiro deles como acharem
melhor”, reclama a menina magricela, cabelos castanhos escorridos e óculos
fundos de garrafa na cara. Sim, é um direito de eles gastarem o dinheiro como
querem. Mas daí é bom que sejam capazes de eleger suas prioridades e saber com
o que gastam. Tenho certeza que com alguma matemática criativa você pode
economizar uns trocados para bancar a sua diversão de fim de semana.
Então, a melhor maneira de agradecer a esse pessoal é
valorizar o grupo pelo que ele vale. Se o seu grupo cobra mensalidade pague e
vá aos treinos. Se ele não cobra, também vá aos treinos com afinco e vontade.
Pagando ou não ajude como puder. Não espere que as pessoas peçam uma mão para
você. Seja proativo. Vá lá e pergunte se
não precisam da sua ajuda para nada e se você não pode fazer alguma coisa para
facilitar o treino dos seus amigos.
Desculpem o texto excessivamente longo.
Mandou muito bem no texto, como sempre!
ResponderExcluirInfelizmente vemos esse tipo de postura nos grupos mesmo. Alguns não entendem que um bom grupo é feito de bons participantes.
"Nosso clã" é diferente de "Clã que eu treino junto".
Se seu clã não cobra mensalidades, aproveite pra juntar seu dinheiro e investir em vestimentas e armamentos novos. Isso também ajuda o grupo a crescer.
Um abraço pra ti!
Sensacional Valberto, não falou mais do que a verdade.
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