quarta-feira, 11 de maio de 2016

Por que precisamos valorizar os grupos pelo que eles valem e não pelo que achamos que eles custam.

É sábado.  Vai chegando o período da tarde e a agitação na casa de Carlos Henryck, o “Caíke” não pára. São dezenas – literalmente falando – de espadas, lanças, machados, adagas e escudos sendo verificados, contados e catalogados. Tudo guardado em bolsas ou simplesmente amarrado e amontoado no carro da família – que dessa vez vai dar uma carona para levar os equipamentos até o campo de treino, o PEC (Ponto de Encontro Comunitário) do Residencial Santos Dumont, na cidade-satélite de Santa Maria – DF.

Na casa do Erik Lima as agitações começaram ainda mais cedo. Na quarta feira, para ser exato. É o dia da postagem semanal do grupo, alertando os membros a respeito do treino de sábado e das dinâmicas que vão acontecer. Dinâmicas que tinham sido definidas pelo menos uma semana antes. Assim como Caíke, Erik tem sua cota de equipamentos para levar, mas dessa vez o carro da família não está disponível. Ele conta com a ajuda de outros membros do grupo para levar o equipamento até o PEC.

Durante o treino, que começa às duas e meia e vai até às seis da tarde Caíke e Erik se dividem passando treinos (que eles pesquisaram durante toda a semana que passou), coordenando atividades, lutando e corrigindo atitudes de alguns colegas mais exaltados.  Engana-se quem pensa que os títulos de “Cavaleiro” e “Rei” são simples honrarias pomposas: representam muito trabalho e dedicação em nome do grupo.

Ao final do treino Caíke e outros membros do grupo dos armeiros dos Cavaleiros da Virtude (Erik e Henrique) vão juntar o arsenal, recontar tudo, separar as armas que precisam de reparos, empacotar tudo e depois ir para casa.

Tudo isso sem cobrar nada. Nenhum centavo. Zero. De grátis. Na faixa. 0800. Tudo isso para um sujeito chegar atrasado no treino, não fazer nada para ajudar, sentar debaixo da árvore para ficar de conversa fiada e depois ir embora reclamando que o treino foi “fraco”, ou “uma droga”. Tudo isso para que um cara que já treina há bastante tempo chegue sem bata, já no fim do treino porque estava assistindo o campeonato mundial de LOL (League Of Legends – o maior defensor da castidade e da virgindade desde a fundação da Igreja católica). Tudo isso para que um cara deixe de ir porque “o sol tá muito quente hoje”.

Minha mãe já dizia uma coisa muito séria: ingratidão tira afeição. Quanto tempo será que esse pessoal abnegado vai continuar fazendo o que faz para que você, que treina sem compromisso, perca o seu grupo?

“Ah Betão, mas eles fazem porque querem! Ninguém os obriga a gastar o sábado com a molecada!” comenta aquele rapaz com camiseta preta e cavanhaque trançado. Sim, é a mais pura verdade. Eles fazem porque querem. Mas não é por isso que você, ou qualquer outro tem o direito de desmerecer o trabalho deles, seja com comentários estúpidos como esse, seja comparecendo ao treino para não fazer nada e ainda sair reclamando.

Mas nem pense que é exclusividade dos Cavaleiros da Virtude. Os “capas pretas” da Ordem dos Assassinos ralam para caramba e não é só no treino. Se o Lukão e companhia não fizerem o trabalho deles direitinho, não tem treino. Não vai ter espada, treino, técnica, camaradagem, diversão... nada. E isso não é apenas no DF: nos grupos como o Kyôdai em Fortaleza, ou na Magnus Legio de Águas de Lindóia, a realidade é a mesma. Um pequeno grupo trabalha para valer, mantendo a unidade e a coesão do grupo maior. Em outras palavras, eles trabalham para que você possa ir lá exibir seu escudo novo ou a sua adaga personalizada.

E justamente porque nós jogadores recebemos isso de graça na maioria das vezes, ou pagando valores irrisórios, que ficamos mal acostumados. Tem gente que não treinaria swordplay se a mensalidade fosse de R$5,00 por mês. “Não tenho dinheiro”, reclamam em coro o pessoal “mão de vaca” que não tem dinheiro para treinar, mas não hesitam em gastar R$30,00 ou mais numa única escapada ao cinema para ver o novo filme da Marvel e engatar um lanchinho depois.

“Mas é o direito deles gastar o dinheiro deles como acharem melhor”, reclama a menina magricela, cabelos castanhos escorridos e óculos fundos de garrafa na cara. Sim, é um direito de eles gastarem o dinheiro como querem. Mas daí é bom que sejam capazes de eleger suas prioridades e saber com o que gastam. Tenho certeza que com alguma matemática criativa você pode economizar uns trocados para bancar a sua diversão de fim de semana.

Então, a melhor maneira de agradecer a esse pessoal é valorizar o grupo pelo que ele vale. Se o seu grupo cobra mensalidade pague e vá aos treinos. Se ele não cobra, também vá aos treinos com afinco e vontade. Pagando ou não ajude como puder. Não espere que as pessoas peçam uma mão para você. Seja proativo.  Vá lá e pergunte se não precisam da sua ajuda para nada e se você não pode fazer alguma coisa para facilitar o treino dos seus amigos.


Desculpem o texto excessivamente longo. 

2 comentários:

  1. Mandou muito bem no texto, como sempre!
    Infelizmente vemos esse tipo de postura nos grupos mesmo. Alguns não entendem que um bom grupo é feito de bons participantes.
    "Nosso clã" é diferente de "Clã que eu treino junto".

    Se seu clã não cobra mensalidades, aproveite pra juntar seu dinheiro e investir em vestimentas e armamentos novos. Isso também ajuda o grupo a crescer.

    Um abraço pra ti!

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  2. Sensacional Valberto, não falou mais do que a verdade.

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