Eu sou uma pessoa acostumada a escrever e a falar em
público. Para você que já é meu leitor não deve ser nenhuma surpresa saber que
eu sou professor da rede pública de ensino. Eu tenho uma certa fama na escola e entre meus
amigos por sempre ter o que dizer. Por nunca ficar sem palavras ou argumentos
sobre qualquer assunto.
Mas o que eu vivi nos últimos três dias, dentro do meu
ambiente de trabalho favorito (a escola), reunindo um dos meus hobbies
favoritos (o swordplay) me deixou sem palavras. Esta não é a primeira versão
deste texto, mas é com certeza a versão que mais me agradou até agora.
Vou recorrer a um velho truque dos escritores, que é fazer
uma recapitulação dos fatos, para ver se o texto flui. Então, vamos voltar até
o ano passado quando eu introduzi a modalidade de swordplay nos jogos
interclasse na minha escola. Foi um sucesso moderado, mas como tudo que acontece
pela primeira vez foi bagunçado e meio descontrolado. Com os erros de 2016 eu
tentei preparar cuidadosamente os jogos de 2017. Mas nada do que eu fiz me
preparou para a sucessão de eventos que eu narro a seguir.
Isso aqui não deu nem para o cheiro |
Combinei com os alunos e com a direção da escola que
faríamos uma “oficina” de swordplay, onde eu ensinaria os alunos a forjarem as
armas que eles usariam nos jogos daquele ano. Dessa forma cada aluno deveria
trazer um cano PVC de ¾, duas tampinhas de garrafa pet e um espaguete de
piscina para que, juntos, fizéssemos as espadas que eles usariam no torneio do
dia seguinte. Na véspera da oficina fui até a loja Kalunga para comprar os
materiais da oficina.
Todo mundo aprendendo os rudimentos da espada |
Com o auxílio da professora de artes (querida Telma)
começamos a oficina de construção na sala do laboratório de redação. Iniciamos
os trabalhos com dois rolos e meio de fita Silver Tape (num total aproximado de
125m), três quartos de fita Silver Tape preta (35m), dois rolos de fita
isolante, três quartos de lata de cola de contato, 10 isolantes térmicos de
sete oitavos, estiletes novos... E não conseguimos terminar fazer e de cobrir todas
as espadas.
No dia seguinte comprar o restante do material extra para
cobrir as espadas. Tivemos que mudar o cronograma dos jogos. No planejamento
original a quarta feira estava marcada para fazer as espadas e para dar
treinamento básico para os alunos. Não deu. Usamos parte da quinta feira para
terminar as espadas, dar treinamento básico e fazer duas das três modalidades
propostas para os jogos.
Ainda na quinta fiz um rápido concurso para ver quem forjou
a melhor espada. Três alunos foram escolhidos os melhores forjadores: Lailla
Emilly (2ºJ), Fellipe Araujo Lima (3ºO) e Anna Eliza (3ºK).
Não tem como deixar de agradecer a todos os alunos que
fizeram destes primeiros dias de gincana um exercício maravilhoso de trabalho e
criatividade. Vocês, que nunca tinham forjado uma única espada na vida, me
ensinaram muito mais sobre forja e criatividade do que eu jamais pude aprender
com outras pessoas.
Os forjadores e suas armas prontas |
Na quinta feira fizemos as duas primeiras modalidades. O
famoso “X1” e o já tradicional “Jogos Vorazes” na escola. Foi um fim de tarde
muito divertido e muitas vezes esqueci que estava coordenando uma competição.
Os alunos jogavam com coragem, raça e honestidade, de tal forma que fariam
inveja a muitos veteranos catimbeiros que existem dando sopa por aí.
X1 foi intenso |
Os tributos se preparando para os jogos vorazes |
No X1 destacaram-se os alunos de Djonatan Washington (2ºK),
com o primeiro lugar; Luann Oliva (2ºQ) com o segundo lugar, e Kevin
"Madonna" (3º M) que levou um honroso terceiro lugar.
Já na modalidade Jogos Vorazes tivemos uma espécie de
repeteco com outros que já haviam ganhado antes: desta vez o Fellipe Araújo
Lima ficou em primeiro, seguido pela Lailla Emilly e com o Kevin de novo em
terceiro lugar. Os melhores colocados do
ano passado foram ficando pelo caminho.
O ponto alto do “terceiro” dia de eventos para swordplay foi
a disputa entre equipes de quatro pessoas para o pega-bandeira. Usamos uma
variação das regras de pega-bandeira à moda de Eldhestar para deixar as coisas
mais dinâmicas. 5 equipes foram inscritas: Azul 1, Azul 2, Vermelho, Verde e Preto (ok,
concordo que precisamos melhorar o nome das equipes). O resultado do pega
bandeira do swordplay acaba de sair. A equipe Azul 2 terminou empatada em
primeiro lugar com a equipe Verde conseguiu um total de 100 pontos. A equipe Preta
empatou em segundo lugar com a equipe Azul 1 e a equipe Vermelha não conseguiu
nenhuma vitória.
Esse foi sem dúvida o dia mais divertido porque os alunos
aprenderam o real sentido do swordplay: companheirismo, amizade, respeito,
honra e honestidade. Muitas vezes eu não precisava advertir o jogador quando
ele fazia alguma coisa errada. Ele mesmo se desculpava com o colega e assumia a
punição combinada. Os próprios jogadores se policiavam, com muito respeito e
honestidade. Uma coisa linda de se ver e que eu vou sentir falta quando for
jogar com pessoas mais “experientes”. Eu fiquei verdadeiramente impressionado
com o caráter dos meninos e meninas que deram seu suor e fôlego nos jogos de
hoje.
E sabe que outro saldo positivo eu tive? Somo s a única modalidade (fora o xadrez) que não teve incidentes relativos á briga dos alunos uns com os outros. Não teve briga, incitação e nem mesmo xingamentos. Bem difernte da queimada feminina e do futsal masculino que exigiram intervenção da direção da escola.
No final do dia tivemos uma rápida confraternização. Amanha teremos
o encerramento dos jogos e vou para a festa com a sensação de dever cumprido. Para
o ano que vem teremos reformulações. Pegar o que deu certo e manter e o que deu
errado consertar e evoluir. Mas vou dar uma dica: no fim do primeiro dia o
diretor da escola perguntou se os alunos iam jogar com uniformes medievais
(batas, tabardos e cia!). Respondi que
era um projeto para o ano que vem. Vamos ver no que dá.
Outro magnífico texto...sua inspiração ao descrever o evento me comove.
ResponderExcluirTexto maravilhoso, pena que quando estudei, o swordplay não fez parte na minha escola, pois eu teria participado dos interclasses com gosto.
ResponderExcluirÉ com gosto e satisfação que acompanho seus textos e por vezes compartilho com meus irmãos de clã sobre o tema do post (ignore meus erros ortográficos que não devem ser poucos, pois nunca fui o maior orgulho de meus professores (risos).
Alegra-me em saber que tem um professor implementando o swordplay como modalidade de esporte na escola. \o/ que a cada ano seja ainda mais bem sucedido nesse projeto!
Sensacional betão!!! Acho q temos de tudo para levar esse esporte para as escolas pois trabalha muito em conjunto com atividades manuais e artisticas! Nao sei se te passei a notícia, mas eu consegui abrir o Clube de Swordplay na UnB (Universidade de Brasilia) e agora com treinos eu consegui a Bolsa Atleta Universitária para poder estruturar o Swordplay la tbm!!
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