Uma das coisas que eu mais
trabalho nesta vida é com definições. Conceituações. Dar o nome e a definição
correta a cada termo para poder usa-los adequadamente para construir uma
narrativa, uma explicação ou mesmo construir um conceito.
Para que haja uma comunicação
eficaz, ambos os interlocutores tem de falar o mesmo idioma e ter clareza dos
mesmos termos. Caso contrário, a comunicação e a compreensão da mensagem ficam
prejudicadas. Observe por exemplo a palavra “escudeiro”, usada com tanta frequência
em nosso meio. Ela pode designar ao mesmo tempo a pessoa que luta usando o
escudo combinado com outra arma e o servidor ou pajem que carregava o escudo de
um cavalheiro, acompanhando-o na guerra. Ela também pode significar um
cavaleiro em treinamento, ou mesmo um título de nobreza baixo. É claro que num
bate papo de amigos sobre swordplay quando eu uso a palavra escudeiro estou me
referindo a quem usa escudo. Mas se eu estiver falando de idade média eu me
refiro ao pajem.
Por isso, dar definições
adequadas ao swordplay e suas práticas é uma coisa que me persegue. Eu já fiz
algumas digressões sobre isso aqui (http://swordplaydobetao.blogspot.com/2017/06/esclarecimentos-definicoes-e-objetivos.html)
mas queria hoje fazer mais um aprofundamento.
Aproveito para começar o texto
pegando emprestado a frase de Kyo Tachibana Santos, dada em entrevista ao
programa “Encontro com Fátima Bernardes”, quando ele diz que “este (esporte, no
caso o swordplay) é o meu futebol”. Sempre gostei de analogias sobre o esporte
favorito dos bretões e portanto começarei por ele.
Existem diversas modalidades
esportivas que atendem por futebol. Tem o futebol de campo (o mais famoso), o
futebol de salão, o futebol de praia, o futebol americano (que não é bem um
futebol mesmo...), o futebol de botão... é tudo futebol. Cada categoria de
futebol é independente uma da outra e ninguém as vê como alguma fase
introdutória para se chegar a outra. Você pode migrar regras de uma modalidade
para outra, mas no fim tudo é futebol e todas são diferentes.
Com o swordplay é a mesma coisa.
Existe o boffer, o softcombat, o hema, a esgrima, a recriação histórica, o
kendô... todos lidam com espada, mas cada um é um universo em si mesma.
O grande erro das pessoas, a meu
ver, é tentar trazer para a sua modalidade favorita características de outras
modalidades. É mais ou menos como uma pessoa que adora futebol de campo e quer
usar chuteiras numa partida de futebol de areia. Não dá muito certo.
Outro ponto a ser considerado é que
embora muitos jogadores transitem entre as diversas modalidade de swordplay nenhuma
delas funciona como uma “escada” o como “um ponto de iniciantes para as outras”.
Assim como o futebol de salão não é a versão para novatos do futebol de campo,
o boffer swordplay não é a versão para iniciantes do hema ou de qualquer outra
categoria. Quem não gosta das dimensões do campo ou do tamanho da bola do
futebol de salão, muda para o futebol de campo e não tenta trazer o campo
gramado ou a bola da copa do mundo (jabulaaaani!) para o futebol de salão. Se você
treina kendô, você não vai levar para o treino uma espada chinesa ou um escudo
viking. Pelo menos, deveria ser assim.
Claro que aqui o objetivo não é
cagar regras. Se você acha que as regras do boffer não são adequadas para você e
você não quer migrar para outra categoria pode tentar fazer uma das três coisas
abaixo:
Criar uma categoria nova
Mudar as regras no seu grupo
Propor e convencer outros grupos
a fazerem a mudança junto com você.
Seja lá o que você for fazer é
bom ter em mente, com muita clareza, o que você quer. Você quer uma coisa mais
realista? Você quer a possibilidade de fazer ataques de carga? Chutar escudos? Usar
as regras de combate medieval desarmado? Usar armaduras e armas de metal? Fazer
valer apenas os golpes que acertam em cheio? Banir para sempre “jutsus” e
posturas de anime? Proibir regras de magia ou poderes sobrenaturais? Acertar a
cabeça e os genitais dos colegas? Se você quer uma delas ou mais de uma eu
tenho duas notícias para você:
Primeiro: a modalidade que você quer
já existe.
Segundo: ela não é o boffer
swordplay.
Texto perfeito. O típico "toque" que tem que ser dado na galera pra entenderem de uma vez por todas que existem diversas modalidades de combate, mas que todas são independentes umas das outras e não refletem a totalidade em si, apenas parcelas.
ResponderExcluirSou adepto de regras conhecidas aqui no RJ como "regras de desmembramento" (acerta o braço, não pode utiliza-lo. Acerta a perna, não pode saltar, correr ou andar normalmente, apenas arrastando a perna, etc...), mas sou adepto dessas regras pois uso o swordplay como regra de combate para LARP medieval. Ainda assim, vejo que tem gente que não aceita ou fica querendo mudar as regras, às vezes até criticando o grupo todo por não gostar das regras.
Só que eu sigo a premissa de, se está insatisfeito, ou senta-se pra debater e apresentar propostas concretas, ou a porta da rua é serventia da casa. Só não acho certo ficarem tentando inserir Hema, esgrima, etc e tal em outra "modalidade" já definida no grupo, só porque "você prefere assim".
Acho que não é só questão de avaliar e criar/modificar regras. Acho que tem que rolar um respeito, pois se um grupo pratica algo há alguns anos, é porque testou e reavaliou diversas vezes as regras para segurança e participação de todos.