quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Traição


Embasamento teórico-conceitual
Traição é um substantivo abstrato, não condicionado a gênero, que remete para o ato de trair e significa uma falta de lealdade, quebra de fidelidade e confiança.
Traição tem a mesma origem que a palavra tradição, o termo em latim traditione. Quanto à etimologia, esta palavra está conotada com a entrega de alguma coisa que pode prejudicar outro.
O conceito de traição implica que há quebra na confiança, fidelidade ou lealdade, entre os elementos envolvidos. Assim, a traição pode acontecer entre amigos, entre companheiros ou entre pessoas que têm um relacionamento amoroso.
Uma das traições mais famosas da humanidade é a de Judas. Segundo conta a tradição, este traiu o seu mestre Jesus, entregando-o às autoridades judaicas. Esta traição também é famosa porque Judas identificou Jesus através de um beijo.
Entretanto, a traição é sempre uma coisa ruim? Não sou religioso e o que vou dizer a seguir não tem por objetivo questionar a fé de quem quer que seja. Veja o caso de Judas: Jesus é filho de deus, onipresente, onipotente e onisciente, e sabia que Judas o trairia. Ele teria, em tese, poder para impedir a traição de Judas, uma vez que ele sabia da tal traição. Ou seja, se não houvesse a traição de Judas, Jesus não teria sido preso e nem tão pouco crucificado. Não teria morrido e nem ressuscitado. Concluindo, sem a traição de Judas, o Cristianismo, como conhecemos não existiria. Claro que há quem defenda que jesus estava apenas respeitando o livre arbítrio de Judas, mas não muda o fato de que ele sabia da traição.  
Existem outros pontos a serem debatidos. A traição pode ser boa. Imagine uma guerra entre dois senhores feudais. Um dos vassalos do senhor A rompe relações com ele e bandeia seus exércitos para o senhor B. Durante a feroz batalha o vassalo traidor começa a atacar a forças do senhor B. A traição dele tinha sido falsa. Ele era, em suma, uma traição dentro de uma traição. Para o senhor A, a estratégia da traição foi muito boa.
A traição, portanto depende do ponto de vista de quem trai e de quem é traído. É necessário lembrar que apenas uma pessoa sente os efeito da traição e realmente se importa com ela: a parte que é traída.   

E o quico (e o swordplay)?
Recebi uma comunicação de um amigo e antigo colaborador da página (O que? Você não sabia que pode ser colaborador aqui da página? Contate-me em particular e descubra como) que dizia mais ou menos assim:
- Betão, tem algum texto na sua página que fale de traição?
- Cara, que eu saiba não. Mas qual foi a fita?
- Bom, o meu clã treinávamos com vários lordes. Cada lorde tinha uma casa e o membro que atingisse a patente baixa de soldado era convidado a entrar numa casa. Dentre essas casas, tinha uma casa chamada XXXXXXXXX, é o lorde dessa casa começou a usar os membros que tinha com ele para montar um novo clã sem se pronunciar. E os que eram da casa dele foram juntos e ainda combinaram de convidar o oferecer vantagens para os outros membros do clã para se juntarem a eles no novo clã. Então, isso nos deixou bem chateado. (...) Ele usou do pouco de influência, mais o trabalho dos membros do clã, para criar um novo clã sem se quer se pronunciar, tudo secretamente. Enfim, pegou a gente de surpresa.  
- Vou ver o que eu posso fazer.
Bom, este texto é a resposta deste diálogo. Eu fiz pequenas alterações cosméticas no texto o meu amigo para que não fosse possível identificar quem era ele e de que clãs estávamos falando. Num assunto passional como a traição eu preciso manter a discrição e a posição neutra.  

Tratando do assunto
A primeira coisa que se tem que entender é que cada caso de traição é um caso diferente de traição. Duas traições não são as mesmas e cada um tem suas nuances, agravantes e atenuantes. Mas outra coisa que há de se deixar claro: os motivos não variam muito. Relação desgastada por brigas e desentendimentos, Falta de interesse de umas ou de ambas as partes, Falta de companheirismo, e Promessas não cumpridas figuram entre os motivos mais comuns para esse tipo de fenômeno.
Uma relação é feita de idas e vindas, onde todo mundo tem que ceder. E num grupo de swordplay as relações entre os membros ou entre os membros e os líderes podem azedar. Ninguém quer permanecer num grupo que perde mais tempo se desentendendo ou fazendo DR (Discutindo Relação) do que efetivamente treinando. Ninguém vai para o treino para ter raiva.  
A falta de interesse ou até mesmo a falta de companheirismo são fatores bem críticos também. Especialmente se o novo grupo que vai nascer dos dissidentes do antigo tiver uma proposta diferenciada, mais de acordo com os interesses das pessoas. Para evitar esse tipo de coisa o grupo tem que se reinventar a cada seis meses.
Entretanto são as promessas não cumpridas que causam a grande quantidade dos casos envolvendo o swordplay. Não foram poucas as vezes eu presenciei pessoas que saíam de seus clãs ou de seus grupos, sob a justificativa de que não tinha sido por aquilo que eles tinham assinado a ficha de filiação. Promessas de igualdade de tratamento, de justiça entre os membros, ou mesmo ações que indicam favorecimento de determinados membros em detrimentos de outros são fatos mais pesados do que a maioria das pessoas gosta de supor.  
Independente dos motivos, se justos ou não, a traição não deve ser tratada como tabu ou coisa que o valha. É desagradável, sem dúvida, mas está longe de ser o fim do mundo. O ideal é que o grupo tenha tudo às claras e que as relações entre os membros sejam regidas por normas bastante dignas Reclamações devem ser ouvidas e resolvidas. E mesmo que haja uma ruptura, é imprescindível que haja uma ponte de comunicação entre os membros para que as coisas possam ser resolvidas em paz. Ou pelo menos da melhor forma possível.


Resumindo...
A traição não é necessariamente uma coisa ruim. Ela pode ser parte de um necessário crescimento para você e seu grupo, se assim você compreender este fenômeno.  Por lidar com a ideia de uma quebra de confiança entre duas ou mais pessoas a traição costuma ser um assunto passional e pode levar a dissabores bem maiores.
Sobre o que aconteceu com o meu amigo, vale a pena repensar se o grupo poderia ter antevisto os sinais de uma eminente traição ou se poderia ter feito alguma coisa para evitar o que aconteceu. Isso para referências futuras, lógico.
E o que fazer no presente? O melhor é esquecer e deixar que os outros sigam com suas vidas. Siga com a sua. Se quiser, risque o nome da pessoa da sua agenda e bloqueie no facebook.  Você não vai ganhar nada em espezinhar e perseguir os que se foram. Deixe que vão embora e lamente a perda deles enquanto se esforça para se recuperar, seja em números ou em qualidade.
E para o futuro? Aprenda a ouvir seus membros e dar seguimento às suas demandas com parcimônia, justiça e transparência. Entenda também que não importa o que você faça traições podem surgir de qualquer lugar.

3 comentários:

  1. Muitíssimo interessante e bem apresentado texto. Penso em compartilhar o link para outros grupos, pois é um ótimo ponto de vista e aprendizado.

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  2. Abordagem interessante em dizer que "nem toda traição é uma coisa ruim". Pouco ortodoxa, eu diria.
    Me questiono em qual ponto uma saída por descontentamento previamente preparada se torna uma traição, mas... creio que o principal que fica é "cumpra as suas promessas ou coisas assim acontecem".

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  3. No antigo clã que fiz parte, houve muito disso, eu mesmo quando sai optei por avisar com antecedência e deixar minhas espadas emprestadas por algumas semanas até que eu terminasse os preparativos para o novo clã (a qual nao aceitei que nenhum membro "ativo" do meu clã antecessor participasse)(recusei varios e expliquei a situação que era para ampliar a visibilidade do esporte e aumentar o numero de praticantes, tomei todas as medidas para evitar conflito)e ainda assim fiquei sabendo que por vezes fui chamado de traidor, aqui no clã do qual faço parte,todos sao livres para irem e virem,sempre que me perguntam se está tudo bem se treinarem em outro clã, sempre respondo que está de boa, eles devem seguir seu coração, se um dia decidirem voltarem, receberão de volta o mesmo sorriso da partida, pois nunca deixarão de ser um irmão de arma.
    "Pois o dia que eu achar que meus interesses ou do meu clã deve prevalecer sobre o que é o melhor para o swordplay, aí neste dia já nao mereco ser seguido, e é chegada a hora de abandonar as armas"

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