segunda-feira, 26 de novembro de 2018

3 regras para Trabalhar com grupos grandes


Lembro-me de ter lido uma entrevista do Bruce Dickinson onde ele falava da logística de um show do Iron Maiden. Uma frase me marcou com certeza: “um turnê como a que fazemos hoje não é a mesma coisa de jogar os instrumentos numa van, cheia de amigos, com algumas cervejas no porta-malas”. E eu ficava sonhando quando é que eu teria o prazer de dizer uma frase no mesmo nível para um assunto que eu gostava. Esse dia chegou, e é como diz a música keeper of the flame, da banda Blackmore’s Night: “be careful of what you wish for, And make sure when it knocks at your door, It'll be what you need, not some fantasy, That will haunt you forever more” (tradução livre: “Tenha cuidado com o que você deseja, E certifique-se que quando bater à sua porta, Vai ser o que você precisa, não alguma fantasia, que vai assombrá-lo para sempre e além”).

“Comandar muitos é o mesmo que comandar poucos. Tudo é uma questão de organização. Controlar muitos ou poucos é uma mesma e única coisa. É apenas uma questão de formação e sinalizações”. (Sun Tzu – a arte da guerra, Capítulo V: Estratégia do Confronto Direto e Indireto).

Estava olhando as fotos dos Lordes de Ferro. Sempre, ou quase sempre, ao final de cada treino eu tiro uma foto das pessoas reunidas. Para ter uma lembrança daquele dia. Tivemos dias muito bons, e dias igualmente ruins. Lembro que num treino tivemos apenas três pessoas: eu, o Bardo e a Gelo. Naquele dia pensei em desistir do hobbie e fazer qualquer outra coisa. Mas olhando as fotos do último treino, quando tivemos trinta e duas pessoas, penso que fiz bem em não desistir. Mas teve outra coisa que eu tie de fazer bem também: me preparar para quando o grupo fosse maior.

No começo eu ficava feliz quando tínhamos cerca de dez a quinze pessoas por treino. Dava para fazer um treino bom, mesmo que eu não tivesse uma organização fenomenal. Eu tinha alguma organização, é verdade, e sempre planejava com antecedência o que íamos fazer naquele dia. Cacoete de professor: planejar para ter o que fazer.

Quando eu percebi que estávamos passando fácil da casa das duas dezenas de jogadores em campo soube que seria a hora de programar regras mais severas e organização mais séria para o treino. Passei a cobrar um equipamento mínimo de cada membro, além do tabardo; passamos a fazer fichas de inscrição, e criamos um sistema de regras padronizado que cada jogador tem acesso. Regras e punições foram estabelecidas e para que sejam levadas á sério eu não tenho qualquer pudor em aplicar a lei. Esse sistema de regras está em sua versão 1.5 e passará por uma revisão no final de 2018 para se acomodar às necessidades do reino para 2019.    

Então, a primeira regra para se comandar grupos grandes é criar um sistema de regras amplamente divulgado e claro, que qualquer um seja capaz de ler e de entender. A partir deste ponto é preciso que as pessoas compreendam que a liderança existe e que deve ser seguida. O trabalho da liderança, inclusive, é o de aplicar as regras e as punições para todos. Quando o grupo recebe um comando deve fazer o seu melhor para cumprir esse comando.

A segunda regra é fazer com que suas ações falem mais alto do que suas palavras. Não apenas falem mais ato, mas falem com coerência.  Eu não posso exigir do meu grupo nenhuma forma de honestidade em combate se eu mesmo sou desonesto; Não posso exigir coragem ou habilidade de meus comandados se meus generais assim não o forem; Não posso exigir justiça ou parcimônia se eu proteger de forma injusta alguns membros do grupo em detrimento de outros. As minhas ações devem ser capazes de convencer meus comandados que o meu principal cuidado é “preservá-los de toda desgraça.”

A terceira regra tem a ver com o conhecer para administrar. Lembre-se dos nomes de todos os oficiais e subalternos. Tenha um registro fiel, anotando o talento e suas capacidades individuais, a fim de aproveitar o potencial de cada um. É para isso que servem as fichas de inscrição. Manter essas fichas atualizadas é um passo importante para você saber o que esperar de cada uma das pessoas de seu grupo.

Sun Tzu encerra a questão com um aforismo bem interessante: Em poucas palavras, o que consiste a habilidade e a perfeição do comando das tropas é o conhecimento das luzes e das trevas, do aparente e o secreto. É nesse conhecimento hábil que habita toda a arte. Assim, o perito ao executar o ataque “indireto” assemelha-se ao céu e as terras, cujos movimentos nunca são aleatórios, são como os rios e mares inexauríveis. Assemelham-se ao sol e à lua, eles tem tempo para aparecer e tempo para desaparecer. Como as quatro estações, ele passa, mas apenas para voltar outra vez.

Em outras palavras: organize-se, conheça o seu grupo e mantenha uma liderança firme e honesta. 

Tudo vai se ajeitar.

domingo, 4 de novembro de 2018

Swordplay para deficientes

Um colega meu sugeriu que eu fizesse um texto abordando as reais possibilidades do swordplay servir para pessoas com deficiência. 
Eu achei um tema bastante interessante, apesar de no momento da sugestão eu não ter qualquer subsídio para desenvolver uma ideia minimamente adequada. Então eu fiz como qualquer pesquisador que tem um assunto novo em mãos faz: saí em busca de pesquisas. E nada melhor para me ajudar do que profissionais que trabalham com pessoas com deficiência. Levei algum tempo para contactar todas as pessoas que eu queria e fazer as pesquisas necessárias para me sentir à vontade para escrever essas mal traçadas linhas. Devo admitir também que o resultado final talvez não seja o que você está esperando. Mas acredito que como ponto de partida o texto cumpre a sua função. 
A grande questão aqui é a adaptação do Esporte e suas regras para pessoas com deficiência. O melhor exemplo que eu posso pensar é o futebol de salão para cegos. Existem regras especiais para essa modalidade: bola com Guizo, plateia em silêncio, goleiro capaz de enxergar, mas usando venda nos olhos...
A mesma coisa pode ser feita com swordplay. Basta adaptar colocando guizos nas espadas, vendando os adversários que porventura não possuam deficiência visual. 
Mas e quando é a deficiência não trabalha com um dos sentidos? E se é uma deficiência motora? Uma pessoa que perdeu a mão ou que usa uma prótese na perna? 
A explicação mantém-se a mesma: a pessoa pode e deve utilizar equipamentos adaptados para a sua condição. Existe um grupo de recreação Histórica viking no Brasil em que um dos participantes não tem uma das mãos. Isso não impede que ele use um escudo amarrado ao braço ou que seja extremamente perigoso e ameaçador usando uma espada ou o machado na sua mão hábil.
Com a questão da prótese basta colocar por cima dela uma armadura ou peça de armadura que a torna imune a golpes. Devemos lembrar que neste caso específico a proteção adequada da prótese é indispensável. Muitas próteses foram feitas para suportar o peso do corpo e caminhar mas não foram feitas para receber golpes laterais com espadas de espuma. Neste caso mais do que nunca o cuidado com o outro é indispensável. 
Se o seu grupo não trabalha com regras de Armadura vale a pena dar uma olhada nas que estão na página do pessoal da Gladius swordplay.
No fim das contas tudo se resume a duas coisas: vontade de inclusão e adaptação das regras. É óbvio que uma pessoa cega não poderia ir para uma linha de batalha massiva como a que temos no encontro Paulista de swordplay. Mas isso não deveria ser empecilho para qualquer pessoa participar e se divertir com a nossa modalidade favorita. 

A Importância da Malícia e da Cautela nas Relações Sociais no Swordplay

Na complexidade das relações humanas, é inevitável que, independentemente de quão bons sejamos e de quanto nos importemos com os outros, sem...