Lembro-me de ter lido uma
entrevista do Bruce Dickinson onde ele falava da logística de um show do Iron Maiden.
Uma frase me marcou com certeza: “um turnê como a que fazemos hoje não é a mesma
coisa de jogar os instrumentos numa van, cheia de amigos, com algumas cervejas
no porta-malas”. E eu ficava sonhando quando é que eu teria o prazer de dizer
uma frase no mesmo nível para um assunto que eu gostava. Esse dia chegou, e é
como diz a música keeper of the flame, da banda Blackmore’s Night: “be careful
of what you wish for, And make sure when it knocks at your door, It'll be what
you need, not some fantasy, That will haunt you forever more” (tradução livre: “Tenha
cuidado com o que você deseja, E certifique-se que quando bater à sua porta,
Vai ser o que você precisa, não alguma fantasia, que vai assombrá-lo para
sempre e além”).
“Comandar muitos é o mesmo que
comandar poucos. Tudo é uma questão de organização. Controlar muitos ou poucos
é uma mesma e única coisa. É apenas uma questão de formação e sinalizações”.
(Sun Tzu – a arte da guerra, Capítulo V: Estratégia do Confronto Direto e
Indireto).
Estava olhando as fotos dos
Lordes de Ferro. Sempre, ou quase sempre, ao final de cada treino eu tiro uma
foto das pessoas reunidas. Para ter uma lembrança daquele dia. Tivemos dias
muito bons, e dias igualmente ruins. Lembro que num treino tivemos apenas três pessoas:
eu, o Bardo e a Gelo. Naquele dia pensei em desistir do hobbie e fazer qualquer
outra coisa. Mas olhando as fotos do último treino, quando tivemos trinta e duas
pessoas, penso que fiz bem em não desistir. Mas teve outra coisa que eu tie de
fazer bem também: me preparar para quando o grupo fosse maior.
No começo eu ficava feliz quando tínhamos
cerca de dez a quinze pessoas por treino. Dava para fazer um treino bom, mesmo
que eu não tivesse uma organização fenomenal. Eu tinha alguma organização, é
verdade, e sempre planejava com antecedência o que íamos fazer naquele dia. Cacoete
de professor: planejar para ter o que fazer.
Quando eu percebi que estávamos
passando fácil da casa das duas dezenas de jogadores em campo soube que seria a
hora de programar regras mais severas e organização mais séria para o treino.
Passei a cobrar um equipamento mínimo de cada membro, além do tabardo; passamos
a fazer fichas de inscrição, e criamos um sistema de regras padronizado que
cada jogador tem acesso. Regras e punições foram estabelecidas e para que sejam
levadas á sério eu não tenho qualquer pudor em aplicar a lei. Esse sistema de
regras está em sua versão 1.5 e passará por uma revisão no final de 2018 para
se acomodar às necessidades do reino para 2019.
Então, a primeira regra para se
comandar grupos grandes é criar um sistema de regras amplamente divulgado e
claro, que qualquer um seja capaz de ler e de entender. A partir deste ponto é
preciso que as pessoas compreendam que a liderança existe e que deve ser seguida.
O trabalho da liderança, inclusive, é o de aplicar as regras e as punições para
todos. Quando o grupo recebe um comando deve fazer o seu melhor para cumprir
esse comando.
A segunda regra é fazer com que
suas ações falem mais alto do que suas palavras. Não apenas falem mais ato, mas
falem com coerência. Eu não posso exigir
do meu grupo nenhuma forma de honestidade em combate se eu mesmo sou desonesto;
Não posso exigir coragem ou habilidade de meus comandados se meus generais
assim não o forem; Não posso exigir justiça ou parcimônia se eu proteger de
forma injusta alguns membros do grupo em detrimento de outros. As minhas ações
devem ser capazes de convencer meus comandados que o meu principal cuidado é “preservá-los
de toda desgraça.”
A terceira regra tem a ver com o
conhecer para administrar. Lembre-se dos nomes de todos os oficiais e
subalternos. Tenha um registro fiel, anotando o talento e suas capacidades
individuais, a fim de aproveitar o potencial de cada um. É para isso que servem
as fichas de inscrição. Manter essas fichas atualizadas é um passo importante
para você saber o que esperar de cada uma das pessoas de seu grupo.
Sun Tzu encerra a questão com um
aforismo bem interessante: Em poucas palavras, o que consiste a habilidade e a
perfeição do comando das tropas é o conhecimento das luzes e das trevas, do
aparente e o secreto. É nesse conhecimento hábil que habita toda a arte. Assim,
o perito ao executar o ataque “indireto” assemelha-se ao céu e as terras, cujos
movimentos nunca são aleatórios, são como os rios e mares inexauríveis.
Assemelham-se ao sol e à lua, eles tem tempo para aparecer e tempo para
desaparecer. Como as quatro estações, ele passa, mas apenas para voltar outra
vez.
Em outras palavras: organize-se,
conheça o seu grupo e mantenha uma liderança firme e honesta.
Tudo vai se ajeitar.
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