sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Os cinco pilares do swordplay

Aviso: Ok, eu não quero e nem vou bancar o dono da verdade aqui. Essa postagem é puramente opinativa. É a minha opinião sobre o assunto e mais nada. Se você gostar, ok. Se não gostar, bem, existem outros lugares onde você pode ir.

Uma das coisas que eu mais gosto quando o assunto são artes marcais é a filosofia envolvida. Se você já praticou alguma arte marcial num dojo sério sabe do que é que eu estou falando. São muito mais que lições de vida, como as que vemos em filmes como Kung Fu Panda ou Samurai X. Em alguns casos envolvem maneiras diferentes de encarar a vida, buscando um estilo de vida mais, como dizer, “elevado”...

Vai ver é por isso que não me agradam de verdade as Artes Marciais Mistas (MMA) que temos inundando os meios de comunicação atualmente, justamente porque não existe uma filosofia envolvida. A “filosofia do MMA” (se é que podemos chamar assim) resume-se a ganhar do outro, não importa o que aconteça. Eu realmente não gosto disso. Vai contra tudo o que eu aprendi sobre esporte, onde o importante é competir e não vencer.

Então, com base no que eu sei sobre filosofia, cavalaria, bushidô e história do pensamento eu elenquei cinco pilares que eu mesmo considero indispensáveis para a boa prática do swordplay. São eles:

Honra
Respeito
Controle
Disciplina
Coragem

A Honra é um pilar de comportamento do ser humano que age baseado em valores bondosos, como a honestidade, dignidade, valentia e outras características que são consideradas socialmente virtuosas. É também o princípio que leva alguém a ter uma conduta digna e que lhe permite gozar de bom conceito junto à sociedade. Eu derivei este conceito de uma das virtudes do bushido, o Meiyo. O verdadeiro guerreiro só tem um juiz de sua honra, e este juiz é ele mesmo. As escolhas que você faz e como você trabalha para obtê-las são um reflexo de quem você realmente é. Você não pode se esconder de si mesmo. Dizemos muitas vezes o que os outros querem que digamos, vemos o que os outros querem que vejamos. Ouvimos o que os outros querem que ouçamos. O valor da nossa dignidade pessoal está implícito na palavra honra.

No swordplay esse pilar implica-se basicamente em duas oportunidades: a honestidade e o cuidado. Honestidade para admitir que recebeu aquele golpe e não tornar-se um highlander e cuidado para agir de modo a não machucar os outros. Afinal, treinamos boffer swordPLAY e não boffer swordFIGHT.

O Respeito é oriundo do latim “respectus” que é um sentimento positivo e significa ação ou efeito de respeitar, apreço, consideração, deferência. Na sua origem em latim, a palavra respeito significava “olhar outra vez”. Assim, algo que merece um segundo olhar é algo digno de respeito.  Por esse motivo, respeito também pode ser uma forma de veneração, de prestar culto ou fazer uma homenagem a alguém, como indica a expressão "apresentar os seus respeitos". Ter respeito por alguém também pode implicar um comportamento de submissão e temor.
Ele também tem inspiração noutra virtude do bushido, o Rei. O verdadeiro guerreiro não tem nenhuma razão para ser cruel. Não há necessidade de provar a sua força. Um verdadeiro guerreiro é cortês até mesmo para com os seus inimigos. Se não fosse assim, ele não seria melhor do que qualquer animal. Um lutador de verdade é respeitado não só por sua coragem, mas também pela forma como eles tratam os outros. O respeito impede que uma pessoa tenha atitudes reprováveis em relação à outra.

No swordplay o respeito se estende à todos: do rei ao mais novo recruta. Um bom guerreiro trata com respeito a todos, agindo com a parcimônia necessária em todos os casos.

Controle também vem do latim. São duas palavras: “contra” e “rotulus”, que indicam ato ou efeito de controlar-se. Neste caso também gosto de usar o termo autocontrole. Nas artes marciais este pilar indica a nossa capacidade de dominar um determinado aspecto da técnica, ou a técnica em si. Ter controle, entretanto, vai muito mais do que dominar uma técnica ou estilo de luta. Ele está diretamente ligado a controlar também a nós mesmos. Evitar nos exceder ou que sejamos displicentes naquilo que fazemos. A medida do autocontrole também é a medida do autoconhecimento.

No swordplay ter controle é saber o que fazer e como fazer. É não usar força excessiva, é manter a calma quando atingido por algum golpe mais sofrido. É ser “cool”.

Disciplina do latim “discipulus”: “aquele que aprende”, e do verbo “discere”, que significa aprender. Para o filósofo pragmático americano Jim Rohn a disciplina é a ponte entre metas e realizações. Este talvez seja o pilar, o hábito, a virtude que buscamos com quem convivemos, tanto a nível profissional, como pessoal. Percebemos grande dificuldade das pessoas em seguir algum propósito, isto tem haver com disciplina ou falta dela. Sem disciplina, o indivíduo pode ser submetido a metas, objetivos, cobranças... pode até ser treinado e de nada adiantará. Do esporte vêm os casos mais escancarados onde a falta da disciplina implica diretamente no desempenho indesejável, tanto pessoal, como profissional.

A disciplina, assim como o controle, também tem uma face voltada diretamente ao ser humano. Assim, a autodisciplina pode ser considerada um tipo de treinamento específico, criando-se novos hábitos de pensamento, ação e linguagem para o auto-aperfeiçoamento e para ajudar a obter suas metas. A autodisciplina pode também ser alcançada através de pequenas tarefas específicas. Encare a autodisciplina como um esforço positivo e não como negativo (de deixar para lá).

No swordplay a disciplina está em se conhecer as regras e saber aplica-las; a dedicar-se ao que tem que ser feito sem deixar para “depois”. Em se conhecer e se aprimorar a cada treino.

Coragem vem do latim “coraticum” e é a capacidade  de agir apesar do medo, do temor e da intimidação. Deve-se notar que coragem não significa a ausência do medo, e sim a ação apesar deste. Muitas vezes é tida também como virtude, como é o caso do bushido, onde ela se encerra em Yuu: um samurai deve ter coragem. Viver é arriscado e perigoso e esconder-se como uma tartaruga que se esconde em sua concha não é a maneira mais adequada de viver. Devemos aprender a viver a vida ao máximo, intensamente. Substitua o medo pelo respeito e cautela. A coragem não é cega, ela é inteligente e forte. O guerreiro bravo motiva-se a ir mais além. Enfrenta os desafios com confiança e não se preocupa com o pior. O medo pode ser constante, mas o impulso o leva adiante. Coragem é a confiança que o homem tem em momentos de temor ou situações difíceis, é o que o faz viver lutando e enfrentando os problemas e as barreiras que colocam medo, é a força positiva para combater momentos tenebrosos da vida.

No swordplay implica em “ir para cima”, “cair dentro”, não importa quem é o outro cara. Sim, você vai ser respeitoso ao lutar com o melhor dos lanceiros, mas isso não vai impedir você de dar os eu melhor.

No fim das contas, você tem que coragem para enfrentar o seu oponente em batalha; tem que ter disciplina e controle para enfrenta-lo de forma digna; e agir com respeito e honra, seja qual for o resultado da luta.


É isso. Obrigado para quem leu tudo isso. 

Um comentário:

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