domingo, 26 de junho de 2016

Estado de fúria

A antiguidade conheceu os mais variados tipos de guerreiros. Mas poucos deles podem rivalizar a força, a coragem e especialmente a fúria dos antigos guerreiros vikings conhecidos como Berserkers. O termo significa “sem camisa” ou “pele de urso” justamente porque estes guerreiros entravam num estado de fúria frenética que lhes concedia coragem e habilidades quase sobrenaturais no campo de batalha. Não se sabe exatamente o que levava esses guerreiros a este estado de fúria incontrolável, mas é farta a documentação histórica que atesta a veracidade, tanto da sua existência quando das suas proezas no campo de batalha.

A fúria e a raiva não são estranhas aos campos de batalha. Guerreiros furiosos, entupidos com o efeito da adrenalina correndo por seus corpos eram verdadeiras ameaças vivas aos seus inimigos – e às vezes até mesmo a seus aliados.

Mas no swordplay um berserker não é desejável. Swordplay é uma atividade desportiva que visa a diversão. Não é uma guerra de verdade e nem mesmo uma simulação ou recriação de uma batalha. Você pode treinar assim ou assado, mas se não houver diversão e segurança, alguma coisa está realmente errada. E não dá para ter segurança com alguém “puto de raiva” solto no campo de batalha.

É regra no grupo onde eu jogo que se você atingir qualquer parte proibida do corpo (cabeça, pescoço, nuca, seios, genitais) ou bater com muita força você é quem efetivamente é derrotado. No nosso último treino eu levei dois golpes na cabeça. Todos dois bem fortes. O primeiro deles pegou da testa para cima, em direção ao lobo frontal do lado direito da cabeça. Doeu pacas na hora e a pessoa que deu o golpe limitou-se a colocar sua arma de lado e se encaminhar para a zona de respawn. Algumas rodadas mais tarde o mesmo cara me atingiu de novo com arco semi-profissional, praticamente à queima roupa (eu estava a menos de três metros dele, com certeza), me atingindo bem no olho direito. Na hora pensei que tivesse quebrado meus óculos, ou pior, que tivesse cortado o meu olho. Mas tudo o que fez foi me deixar cego por uns instantes e meio zonzo por alguns minutos. De novo o atacante não pediu desculpas.

Mesmo sendo uma pessoa controlada eu fiquei muito puto. Mas não o bastante para partir para cima do cara. Eu sei que foi um acidente, mas machucou e me deixou muito enraivecido. A raiva durou praticamente o resto do treino. E com a dose extra de adrenalina correndo nas veias eu lutei muito melhor, cegando a despachar sozinho cinco atacantes do outro time que haviam me cercado.  Mas eu não gostei. Não foi uma vitória doce. Foi amarga. Eu estava furioso e não medi minhas palavras e devo ter dito coisas que normalmente eu não diria. Não é dessa forma que eu sou e nem dessa forma que eu quero lutar.


Então, se há alguma coisa a ser aprendida nisso tudo é que você deve tentar relevar o máximo  os acidentes quanto o comportamento dos colegas. E se não for possível e você perceber que não vai se controlar ou que vai fazer alguma coisa errada, simplesmente deixe o campo de batalha. É melhor para você e para todo mundo. 

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