Dar conselhos é uma coisa relativamente fácil. Seguir conselhos,
por outro lado, pode ser bem complicado. Nas últimas semanas eu quase não tenho
postado nada, mas é por um bom motivo. Eu estava em recuperação médica.
Bom, estava é modo de dizer. Eu ainda estou, mas o pior já
passou. No final de março eu fui internado às pressas por conta de uma terrível
dor na região do baixo ventre. Uma bateria de exames realizados mais tarde e a
descoberta: uma pedra de 5mm estava alojada no canal da uretra esquerda,
impedindo que a urina proveniente dos rins chegasse até a bexiga. Segundo o meu
médico, Dr. Berthrand, esse entupimento já estava dando refluxo de urina nos
rins. A cirurgia foi feita de emergência no mesmo dia. A fim de manter o canal
aberto foi instalado um cateter do tipo duplo J e me foi receitado 10 dias de
repouso absoluto. Deveria voltar em sete dias para uma reavaliação. Nada de
esforço.
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Imagem Ilustrativa do que é um cateter duplo J |
Quando o termo é nada de esforço, é nada de esforço mesmo. Eu
passava a maior parte do meu dia deitado na cama, tomando remédios ou submetido
à dieta que a minha esposa preparou com todo carinho. Até para ir ao banheiro
doía, mesmo com a ação dos analgésicos.
Ao final de sete dias descobri que aquele era o começo da
jornada. O médico me informou que a tomografia havia localizado outra, de 1,5cm
(3x maior que a primeira!) alojada no rim direito. Eu faria uma segunda
cirurgia para retirar o cateter esquerdo e para fazer a intervenção no rim
direito, com laser. Depois eu passaria por mais 14 dias de recuperação em casa –
com esforço zero. E depois disso eu faria uma terceira cirurgia para tirar o
cateter do rim direito.
A última cirurgia aconteceu na sexta-feira, 12 de maio. Eu estou
em casa. Sem cateteres. Em franca, porém lenta recuperação.
Ok, e por que jogar esse boletim médico na página que fala
sobre swordplay? Por coerência. Na postagem de 09 de fevereiro (Tá dodói? Fique
em casa) eu fiz afirmações sobre o que você deve fazer em caso de alguma lesão.
Cito a mim mesmo: “Por mais que seja tentador, não volte aos treinos antes da
hora e não busque caminhos alternativos fora dos meios profissionais para se
recuperar. Siga as orientações do seu médico à risca. Respeite os limites do
seu corpo e aprenda a conviver com suas limitações. (...) Não se preocupe. Em
pouco tempo você vai estar de volta, recuperado e pronto para outra”. O meu
médico disse “esforço zero”. E esforço zero é (justamente) não ir aos treinos.
Como sou adepto da frase de Oscar Wilde “posso resistir a
tudo, menos às tentações” eu me afastei de verdade do swordplay nesses dias.
Porque eu sabia que se me metesse a besta de ir a um dos treinos, mesmo para ficar
sentado, olhando o pessoal treinar, eu ai acabar metendo os pés pelas mãos e ia
voltar para casa mijando alguma coisa da cor de vinho talhado.
Mas Betão, você fez postagens enquanto estava acamado –
poderia inferir alguém. Sim, eu fiz. E entre uma recuperação e outra ainda consegui forças para ir trabalhar. Dar aulas sentado é um desafio á sanidade.
Postagens que já estavam planejadas e
parcialmente executadas foram terminadas e postadas. Mas desde 24 de abril eu não escrevo nada sobre
swordplay justamente porque não há nada a ser escrito. Eu sou um escritor muito
limitado. Para escrever sobre algo eu preciso viver esse algo de alguma forma. E
como eu não estava treinando, bem, o melhor foi não ficar “enchendo linguiça” quando
tudo que eu deveria estar fazendo (e fiz) era ver reprises de Tokusatsu no
streaming.
O lance é que estamos de volta. Temos alguns trabalhos
engatilhados, outros sendo pesquisados, mas eu queria um pouco da ajudar dos
meus leitores. Sobre o que você gostaria que eu escrevesse?
Obrigado pela visita.