domingo, 27 de dezembro de 2015

Quem é o dono da técnica?

Técnica. Do grego “téchne”, significava arte, ou ofício. É o procedimento ou o conjunto de procedimentos que têm, como objetivo, obter um determinado resultado, seja no campo da ciência, da tecnologia, das artes ou em outra atividade qualquer. Trocando em miúdos, técnica é tipo uma “receita de bolo” que você segue para conseguir alguma coisa, algum resultado. Óbvio que a definição do termo “técnica” vai bem além disso, mas para o que eu quero discutir aqui essa ideia central serve muito bem.

Todo mundo que pratica swordplay já tentou, pelo menos uma vez, fazer a sua própria espada. Não só no Brasil, como em todo mundo as pessoas desenvolvem “receitas” de como fazer suas armas favoritas, dando mais cor e forma ao desporto: machados de duas cabeças, réplicas de armas vistas em filmes e animes, armas orientais, onde o limite é apenas o que a pessoa é capaz de construir. Tutoriais existem aos montes pela internet e não me deixam mentir. Alguns deles tão antigos quanto a atividade desportiva em si. Variações dentro dos modelos, formas, objetivos e necessidades que se aplicam a cada grupo ou clã. É muito comum, inclusive, que se dê nome às técnicas mais famosas. É normal ouvir coisas como “esta espada foi feita pelo método bellator” ou “esse machado foi feito baseado no estilo da magnus legio”. E não existe nada de errado nisso.

Mas será que existe alguém que possa dizer-se “dono/dona” de uma determinada técnica? Será que num mundo com 7 bilhões de pessoas, você é único “floquinho de neve” que desenvolveu aquele modo de fazer adagas, ou aquele jeito de fortificar as bases de um machado? Desculpe filho/filha, mas a resposta é não.

Existem XXXX itens a serem observados. O primeiro deles é que existe nos seres humanos uma coisa chamada “evolução paralela”: pessoas submetidas a problemas semelhantes e com recursos semelhantes tendem a descobrir respostas parecidas para seus problemas. Você é capaz de dizer qual o país ou cultura do mundo desenvolveu a lança? Ou espada?  A clava? Você não pode porque são criações que existem em todas as culturas do mundo. Desde os Ianômanis do norte do Brasil, passando pelos Otomanos do século XV, até os gregos de VII aC.

A segunda coisa a ser observada é que muito do que é criado no swordplay vem da interação com os outros. É muito difícil fazer swordplay sozinho. Não dá para dizer onde começou a sua ideia e onde terminou a dica do outro. Quem pensou me usar macarrão de piscina pela primeira vez? Quem decidiu fazer guarda de EVA siliconado? Quem decidiu experimentar a fibra de vidro ou o famoso (e mítico) PI pela primeira vez? Ninguém sabe, mas provavelmente não foi qualquer um capaz de ler essas palavras.

Então o meu conselho é: vamos parar de ser cuzões e deixar de reivindicar para nós mesmos a “invenção da roda”. Se você criou algo bem legal mesmo para o desporto o legal é compartilhar com os outros. Manter a fórmula secreta só para você faz de você um babaca. E de babacas, convenhamos, o mundo está cheio.

É isso  gentes. Bom fim de ano para todos e longa vida ao swordplay.

Serviço:


terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Quando o dever chama

Minha mãe tinha uma frase que durante muitos anos eu repeti sem entender muito bem. A frase é: “primeiro a obrigação, depois a devoção”. Significa que primeiro temos que fazer aquilo que é realmente importante para a nossa vida e depois partir para outras coisas menos importantes. Eu só tive mesmo consciência real dessa frase quando passei a morar sozinho e entender que por mais que eu goste de gastar dinheiro com certas coisas, algumas despesas precisam ser pagas primeiro, como a conta de água, por exemplo.

No fim de semana passado tivemos o segundo episódio da guerra entre os assassinos e os cavaleiros da virtude. Uma interação bacana entre dois dos melhores clãs de swordplay do DF. Um momento de disputa, embate e ao mesmo tempo de formar novas amizades e trocar ricas experiências. É como eu costumo dizer aos amigos Rômulo e Lucas de Lima: fui ara a guerra e acabei fazendo bons amigos. Foi um deslocamento hercúleo de forças dos dois lados: reunir gente que saiu de Santa Maria para o parque da cidade não foi fácil. Uma festa sem precedentes na história do swordplay do DF... e eu não fui.

“Porra Betão, como é que você não foi?” pode perguntar alguém. É simples: eu tinha outros compromissos agendados. “Mas o que pode ser mais importante que uma guerra?” pode inquirir outro. A resposta não pode ser mais simples do que essa: sair com a minha esposa. Enquanto meus amigos trocavam golpes com armas feitas de cano e espuma, cobertas por silver tape, eu estava passeando no shopping com a minha esposa.

Você deve estar pensando que eu me arrependi de ter saído com a patroa, não é? Ledo engano esse... eu adoro sair com a minha esposa. Como não gostar de sair com a pessoa mais importante da minha vida, minha companheira, amante e confidente? Temos uma relação bem bacana e sabemos que de vez em quando temos que separar um tempo só para nós dois. Sair para almoçar fora, fazer compras, ir no cinema sem hora para voltar... esse tipo de coisa que apenas um casal pode fazer como a gente faz. Eu troco o swordplay qualquer dia da semana por estar perto da minha amada. Swordplay é hobby, é algo que eu faço por prazer, nas horas vagas.

Aprendi a duras penas que na vida adulta tem coisas que a gente faz por obrigação e outras que a gente faz por prazer. E quando eu consigo unir os dois, é com isso que eu vou ficar.

Longa vida ao swordplay. 

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Equipamento de qualidade faz toda a diferença

Eu me lembro de que quando comecei a editar textos, trabalhava num Works 5.0 que rodava em DOS (não é MS-DOS, é apenas DOS) que veio de “brinde” quando comprei o meu primeiro PC com Windows 3.1. E eu odiava. Fazia o possível para usar o Write, mesmo que ele não tivesse corretor de texto e nem pudesse fazer alinhamento justificado de texto. Só depois consegui uma cópia do Word for Windows 2.0 (sim, dois ponto zero).

Na época eu prestava serviços de digitação para a Pró-reitoria de Pós-Graduação da Universidade Estadual do Ceará e a diretora na época exigia que eu usasse o Works. Não adiantava nem dizer que ele era um editor ruim. Ela queria no Works. Numa de nossas discussões eu a apresentei ao Word 2.0 e disse que o trabalho fluiria melhor com a ferramenta certa.

“Ah, isso não existe. O texto tem que sair bom com o editor que for. Se eu te der uma caneta de ouro você faz um best seller?” Era bem equivocada essa posição. E sabe por que? Porque a ferramenta de trabalho faz sim diferença no produto final. Pegue um super cozinheiro e dê a ele ingredientes de terceira, ou pegue um super piloto e dê a ele um carro de motor mais fraco. Não precisa ser gênio para perscrutar o resultado.

O swordplay também não foge a essa regra. Quanto melhor o equipamento, melhores suas chances. Afinal se você pode ter acesso a uma espada bonita, leve, resistente e bem acabada por que você optaria um uma espada feia, pesada, frágil ou mal acabada?  E para conseguir equipamento de qualidade você tem duas opções: virar um ferreiro bom demais da conta ou comprar uma peça de algum cara consagrado.

Faz algum tempo eu cometei aqui com vocês que tinha encomendado uma espada longa com eles e dessa vez me arrisquei a pedir alguma coisa mais “complicada”. Uma espada bolongnese. Estou encantado com este estilo de esgrima e precisava de uma espada do estilo, também chamado de escola Dardi,  para usar nos meus treinos em casa.
Então, encomendei a espada mais uma vez ao Victor. Ele é um dos membros da Aliança Beufort, a mais bem sucedida associação para a prática do swordplay aqui no DF e cavaleiro dos grifos de prata - um dos grupos mais honrados.  E agora, pela minha própria experiência pessoal, posso coroá-lo como o melhor ferreiro de todo DF. Não amigo, não tem para mais ninguém.

Mas não precisa acreditar somente na minha palavra (seria sábio da sua parte, mas não posso esperar isso de todos) e por isso estou colocando uma ilustração.
Mais uma vez: se precisarem de um ferreiro, chamem o Victor. Melhor no DF não há.

SERVIÇO:
Página das Gatosas. https://www.facebook.com/gatosas

Victor Lima. https://www.facebook.com/victor.lima.547?fref=ts

domingo, 6 de dezembro de 2015

Os vídeos de treinamento da internet funcionam?

Desde que eu comecei com esse negócio de swordplay eu tenho me embrenhado pelo universo do treinamento online. Você sabe e até mesmo já deve ter visto por aí: pessoas ensinando você a usar, em pleno século XXI, armas do século XV.

Como sou naturalmente curioso, tenho visto muitos vídeos com posturas, posições, técnicas e escolas de combate com armas. As fontes são as mais variadas: desde renomados professores de história, com suas reencenações históricas precisas, passando pelos especialistas do HEMA (Historical European Martial Arts/ Artes Marciais Históricas Européias), com suas reinterpretações dos antigos manuais de luta medievais, atravessando os entusiastas de Percy Jackson, até pessoas que “desmontam” as coreografias dos filmes e animes para criar seus próprios estilos de luta. Se você é capaz de pensar em empunhar uma espada, pode ter certeza que em algum lugar da rede você vai encontrar um vídeo que ensine você a usar aquela arma.

Mas qual é a efetividade desses vídeos? Eles funcionam mesmo? Você pode aprender a lutar melhor com eles? Eu procurei alguns colegas para tentar responder essas questões. O primeiro deles é o professor Marcos, titular da pasta de Educação Física da SEDF, e faixa preta de Kung Fu no estilo Louva-a-deus. Expliquei rapidamente as regras do swordplay para ele e mostrei como se luta: onde podem pegar os golpes, onde não pode, o que pode fazer e o que não pode, enfim, o básico. Depois mostrei a ele dois vídeos de treinamento com a espada longa, no tradicional estilo alemão: um de posturas e outro de sparing.

A primeira coisa que ele esclareceu é que eu deveria ter em mente as diferenças entre brandir uma arma de cano coberta com espuma para uma arma de metal. As armas de metal serão sempre mais rápidas, leves e precisas, uma vez que não estão realmente preocupadas com a segurança do oponente. Elas são, quase sempre, balanceadas e feitas para o que se propõe: acertar o outro causando o maior dano possível.

A segunda coisa é que nenhuma das posturas de ataque que eu mostrei está preocupada em deixar de acertar a cabeça, os genitais ou o pescoço. Na verdade, acertar essas áreas é uma necessidade num combate “de verdade”. Boa parte dos ataques mira justamente nesta área. Um exemplo disso é o kendo/kenjutsu. Um praticante que migre dessa modalidade para o swordplay terá muitas dificuldades em usar o que já sabe de um combate real num combate “amistoso”, já que o primeiro golpe que se treina é o “men” (golpe na cabeça).

Um terceiro item que ele reforçou é que as posturas (katas, como ele se referiu) da esgrima alemã partem do princípio que se você bobear e deixar a guarda aberta vai morrer ou ficar seriamente ferido. É tudo muito cauteloso, mesmo àquelas manobras que parecem um ataque descontrolado. No swordplay essa limitação inexiste porque o pior que pode acontecer é você levar um ou dois golpes no peito e ficar de fora da partida por um round ou dois. Então as pessoas são menos cautelosas com armas de verdade, mas não com armas de espuma. Eu mostrei um vídeo de sparing dos cavaleiros da virtude e depois comparamos com um vídeo de sparing do estilo alemão. A constatação foi automática: todo cara de swordplay vai para cima de verdade.

O segundo especialista que eu contatei foi um amigo que treina HEMA e swordplay nos estados unidos, Sean Aspie. Ele mesmo tem ou tinha alguns vídeos de tutorial de como usar a espada. Nosso papo foi rápido, mas ele foi categórico em afirmar que pouca coisa que você vê nos treinos de HEMA ou de reencenação histórica podem ser usadas no swordplay. Você aproveita as posturas básicas, as posições de guarda, como segurar a arma, aprende a medir distância e dar alguns golpes, mas é só. É como tentar pegar o que você aprendeu jogando futebol de salão a vida inteira e transportar para o futebol de campo: algumas coisas vão funcionar, mas outras... (ok, ele usou outra analogia, mas creio que essa ficou bem melhor).


E o veredicto final? Os vídeos funcionam de certa forma. Se você pegar vídeos de swordplay mesmo vai ver uma coisa mais limpa, mais ajustada para aquilo que você pratica. Se não, vai ter de filtrar/ajustar/ignorar um monte de coisas. No final das contas é você que vai ter de julgar se aquele material serve ou não para você. 

A Importância da Malícia e da Cautela nas Relações Sociais no Swordplay

Na complexidade das relações humanas, é inevitável que, independentemente de quão bons sejamos e de quanto nos importemos com os outros, sem...