domingo, 6 de dezembro de 2015

Os vídeos de treinamento da internet funcionam?

Desde que eu comecei com esse negócio de swordplay eu tenho me embrenhado pelo universo do treinamento online. Você sabe e até mesmo já deve ter visto por aí: pessoas ensinando você a usar, em pleno século XXI, armas do século XV.

Como sou naturalmente curioso, tenho visto muitos vídeos com posturas, posições, técnicas e escolas de combate com armas. As fontes são as mais variadas: desde renomados professores de história, com suas reencenações históricas precisas, passando pelos especialistas do HEMA (Historical European Martial Arts/ Artes Marciais Históricas Européias), com suas reinterpretações dos antigos manuais de luta medievais, atravessando os entusiastas de Percy Jackson, até pessoas que “desmontam” as coreografias dos filmes e animes para criar seus próprios estilos de luta. Se você é capaz de pensar em empunhar uma espada, pode ter certeza que em algum lugar da rede você vai encontrar um vídeo que ensine você a usar aquela arma.

Mas qual é a efetividade desses vídeos? Eles funcionam mesmo? Você pode aprender a lutar melhor com eles? Eu procurei alguns colegas para tentar responder essas questões. O primeiro deles é o professor Marcos, titular da pasta de Educação Física da SEDF, e faixa preta de Kung Fu no estilo Louva-a-deus. Expliquei rapidamente as regras do swordplay para ele e mostrei como se luta: onde podem pegar os golpes, onde não pode, o que pode fazer e o que não pode, enfim, o básico. Depois mostrei a ele dois vídeos de treinamento com a espada longa, no tradicional estilo alemão: um de posturas e outro de sparing.

A primeira coisa que ele esclareceu é que eu deveria ter em mente as diferenças entre brandir uma arma de cano coberta com espuma para uma arma de metal. As armas de metal serão sempre mais rápidas, leves e precisas, uma vez que não estão realmente preocupadas com a segurança do oponente. Elas são, quase sempre, balanceadas e feitas para o que se propõe: acertar o outro causando o maior dano possível.

A segunda coisa é que nenhuma das posturas de ataque que eu mostrei está preocupada em deixar de acertar a cabeça, os genitais ou o pescoço. Na verdade, acertar essas áreas é uma necessidade num combate “de verdade”. Boa parte dos ataques mira justamente nesta área. Um exemplo disso é o kendo/kenjutsu. Um praticante que migre dessa modalidade para o swordplay terá muitas dificuldades em usar o que já sabe de um combate real num combate “amistoso”, já que o primeiro golpe que se treina é o “men” (golpe na cabeça).

Um terceiro item que ele reforçou é que as posturas (katas, como ele se referiu) da esgrima alemã partem do princípio que se você bobear e deixar a guarda aberta vai morrer ou ficar seriamente ferido. É tudo muito cauteloso, mesmo àquelas manobras que parecem um ataque descontrolado. No swordplay essa limitação inexiste porque o pior que pode acontecer é você levar um ou dois golpes no peito e ficar de fora da partida por um round ou dois. Então as pessoas são menos cautelosas com armas de verdade, mas não com armas de espuma. Eu mostrei um vídeo de sparing dos cavaleiros da virtude e depois comparamos com um vídeo de sparing do estilo alemão. A constatação foi automática: todo cara de swordplay vai para cima de verdade.

O segundo especialista que eu contatei foi um amigo que treina HEMA e swordplay nos estados unidos, Sean Aspie. Ele mesmo tem ou tinha alguns vídeos de tutorial de como usar a espada. Nosso papo foi rápido, mas ele foi categórico em afirmar que pouca coisa que você vê nos treinos de HEMA ou de reencenação histórica podem ser usadas no swordplay. Você aproveita as posturas básicas, as posições de guarda, como segurar a arma, aprende a medir distância e dar alguns golpes, mas é só. É como tentar pegar o que você aprendeu jogando futebol de salão a vida inteira e transportar para o futebol de campo: algumas coisas vão funcionar, mas outras... (ok, ele usou outra analogia, mas creio que essa ficou bem melhor).


E o veredicto final? Os vídeos funcionam de certa forma. Se você pegar vídeos de swordplay mesmo vai ver uma coisa mais limpa, mais ajustada para aquilo que você pratica. Se não, vai ter de filtrar/ajustar/ignorar um monte de coisas. No final das contas é você que vai ter de julgar se aquele material serve ou não para você. 

3 comentários:

  1. Gostei do post. Principalmente pelas consideracoes finais. Eu faco parte do grupo Sarrath, campeao nacional de swordplay ou softcombat. Utilizamos as tecnicas de esgrima medieval em nossos treinamentos e posso assegurar que funcionam perfeitamente para nosso esporte. Ate agora nao houve um grupo capaz de vencer o sarrath... A que atribuo esse sucesso? ao treinamento de 6 horas semanais somente em tecnicas, posturas, guardas e golpes direcionados a que realmente conta pontos e levando sempre em consideracao as partes do corpo proibidas.
    As vantagens de um lutador de softcombat que possui tecnica e treinamento para os que nao possuem sao gritantes. Realmente como vc diz no post os caras vem com tudo em softcombat! mas no nosso caso isso somente serve para ele sair do jogo ou perder o torneio mais rapido que aqueles que lutam com cuidado e com as tecnicas devidas. Concluindo acho que vale a pena sim estudar atraves dos videos ou como o praticante de swordplay puder realizalo.
    Um abraco e boa diversao a todos os guerreiros que eh isso que realmente importa!!!! Deixo o link do meu grupo na Bolivia para aqueles q tiverem curioidade em dar uma olhada!
    https://www.facebook.com/SarrathGames/?fref=ts
    https://www.facebook.com/groups/sarrathrol/?fref=ts

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Desculpem... eu fiz um comentário idiota e o apaguei. Maravilhoso o seu relato. Eu fico muito feliz em saber que tenho leitores na Bolívia.

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