Matar pelas costas é ou não é
desonroso?
“O código do líder samurai (...)
Agir de forma honrada. Agir com coragem e espírito de guerreiro. Quando souber
o que precisa ser feito, entre em ação. Agir com retidão. Faça a coisa certa”. (DEFENDERFFER, Bill. O líder samurai. Elsevier
editora Ltda. 2006 – página 65).
Matar pelas costas é uma das
coisas mais polêmicas envolvendo a prática do swordplay. E até posso imaginar
porque ela é assim. Muitos grupos de swordplay se baseiam numa ideia de idade
média, com cavaleiros em armaduras brilhantes percorrendo os campos em busca de
aventura, defendendo a justiça e a honra. Essa versão traz um código de
cavalaria que entre outras coisas reza que o cavaleiro deve “lutar com honra e
nunca levantar sua mão contra um inimigo incapaz de se defender”.
Vale ressaltar que na Idade Média
não existia algo que parecesse realmente como “um código” de cavaleiros. Esse
código teria sido criado durante a Renascença, a fim de reforçar o caráter de
personagens dos folhetins, como é o caso do romance português sobre cavalaria “Eurico,
o presbítero” e constantemente alterado durante as épocas seguintes. A
cavalaria e seus códigos como conhecemos surgiu no livro “A Morte de Artur”,
originalmente Le Morte d'Arthur ou Le Morte Darthur, escrito no século XV pelo
inglês Thomas Malory sobre a história do Rei Artur e os Cavaleiros da Távola
Redonda.
Faz sentido. Já que ninguém sabia
ler, imagino que registros fossem difíceis de serem mantidos. E aliás,
convenhamos, pelo que sabemos de História, os cavaleiros eram capazes de atos
bárbaros e animalescos… afinal, eram nada mais que soldados treinados para a
guerra. Nada daquela honra e coragem toda da Távola Redonda.
Voltando ao mundo moderno e
deixando os livros de história de volta na prateleira, o que isso tem a ver com
swordplay? O grande cerne da questão é se matar pelas costas é honrado ou não.
Se você levar em consideração fatos históricos, tanto samurias como cavaleiros
medievais (e demais combatentes que portaram uma espada) não tinham qualquer
escrúpulo em flanquear seu inimigo, atacar pelas costas ou mesmo lutar sujo.
Não era considerado desonroso aproveitar-se de uma vantagem surgida da sua
habilidade de combate ou da sorte. É como diz Defenderffer na citação inicial
que abre este artigo: quando souber o que precisa ser feito, agir com coragem e
determinação. Se isso envolver eliminar um combatente descuidado, vá lá e faça
a “limpa”.
Mas é claro que mesmo apoiado em
fatos e relatos históricos a questão não se encerra. Existem aqueles que
realmente se ofendem por atacar pelas costas. E é um direito legítimo deles não
gostar da prática, afinal de contas não estamos vivendo uma guerra de verdade e
sim de fantasia: não se morre e nem se machuca com gravidade no swordplay então
você pode se dar ao luxo de agir de uma forma mais romantizada ou heroica.
No fim das contas o que vai
prevalecer é o entendimento do seu grupo sobre o assunto. Se o seu grupo prega
que você deve ter visão do campo de batalha e estar sempre atento para não ser
surpreendido por um traiçoeiro ataque furtivo é assim que você vai jogar. Agora
se seu grupo afirma que é desonroso atacar alguém que está incapaz de se
defender é essa pecha que você vai ganhar se atacar pelas costas.
O que vale mesmo é a diversão.
Longa vida ao swordplay!
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