quinta-feira, 21 de abril de 2016

Backstab!

Matar pelas costas é ou não é desonroso?

“O código do líder samurai (...)  Agir de forma honrada. Agir com coragem e espírito de guerreiro. Quando souber o que precisa ser feito, entre em ação. Agir com retidão. Faça a coisa certa”.  (DEFENDERFFER, Bill. O líder samurai. Elsevier editora Ltda. 2006 – página 65).


Matar pelas costas é uma das coisas mais polêmicas envolvendo a prática do swordplay. E até posso imaginar porque ela é assim. Muitos grupos de swordplay se baseiam numa ideia de idade média, com cavaleiros em armaduras brilhantes percorrendo os campos em busca de aventura, defendendo a justiça e a honra. Essa versão traz um código de cavalaria que entre outras coisas reza que o cavaleiro deve “lutar com honra e nunca levantar sua mão contra um inimigo incapaz de se defender”.

Vale ressaltar que na Idade Média não existia algo que parecesse realmente como “um código” de cavaleiros. Esse código teria sido criado durante a Renascença, a fim de reforçar o caráter de personagens dos folhetins, como é o caso do romance português sobre cavalaria “Eurico, o presbítero” e constantemente alterado durante as épocas seguintes. A cavalaria e seus códigos como conhecemos surgiu no livro “A Morte de Artur”, originalmente Le Morte d'Arthur ou Le Morte Darthur, escrito no século XV pelo inglês Thomas Malory sobre a história do Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda.

Faz sentido. Já que ninguém sabia ler, imagino que registros fossem difíceis de serem mantidos. E aliás, convenhamos, pelo que sabemos de História, os cavaleiros eram capazes de atos bárbaros e animalescos… afinal, eram nada mais que soldados treinados para a guerra. Nada daquela honra e coragem toda da Távola Redonda.  

Voltando ao mundo moderno e deixando os livros de história de volta na prateleira, o que isso tem a ver com swordplay? O grande cerne da questão é se matar pelas costas é honrado ou não. Se você levar em consideração fatos históricos, tanto samurias como cavaleiros medievais (e demais combatentes que portaram uma espada) não tinham qualquer escrúpulo em flanquear seu inimigo, atacar pelas costas ou mesmo lutar sujo. Não era considerado desonroso aproveitar-se de uma vantagem surgida da sua habilidade de combate ou da sorte. É como diz Defenderffer na citação inicial que abre este artigo: quando souber o que precisa ser feito, agir com coragem e determinação. Se isso envolver eliminar um combatente descuidado, vá lá e faça a “limpa”.

Mas é claro que mesmo apoiado em fatos e relatos históricos a questão não se encerra. Existem aqueles que realmente se ofendem por atacar pelas costas. E é um direito legítimo deles não gostar da prática, afinal de contas não estamos vivendo uma guerra de verdade e sim de fantasia: não se morre e nem se machuca com gravidade no swordplay então você pode se dar ao luxo de agir de uma forma mais romantizada ou heroica.

No fim das contas o que vai prevalecer é o entendimento do seu grupo sobre o assunto. Se o seu grupo prega que você deve ter visão do campo de batalha e estar sempre atento para não ser surpreendido por um traiçoeiro ataque furtivo é assim que você vai jogar. Agora se seu grupo afirma que é desonroso atacar alguém que está incapaz de se defender é essa pecha que você vai ganhar se atacar pelas costas.


O que vale mesmo é a diversão. Longa vida ao swordplay!

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