terça-feira, 22 de março de 2016

A polêmica do teste de fidelid... quero dizer de graduação.

Pauta sugerida pelo leitor Luis Felipe Nascimento.


Teste de graduação, teste de proficiência, exame de suficiência... são muitos os nomes que designam essa prática, bastante comum, nos diversos grupos de swordplay Brasil à fora. Segundo o site do Draikaner, os testes de graduação “são momentos muito importantes na trajetória dos membros (...). Neles suas habilidades são verificadas para que possam provar o quanto evoluíram”.

Testes de graduação separam os homens dos meninos, ou combatentes sérios dos guerreiros de fim de semana. Mostram o nível dos guerreiros dos clãs em diversas situações de combate e estratégia. Em muitos aspectos não é diferente de um exame de faixa das diversas modalidades sérias de artes marciais (como o judô, o karatê, o kung-fu entre tantas outras). Alguns grupos as usam para selecionar membros através do seu mérito próprio para atuarem em posições de destaque dentro da organização do clã/reino. O próprio site do Draikaner separa seus membros de acordo com a sua graduação em combate: aprendiz, guerreiro, soldado, sargento, e finalmente capitão. Outros grupos como os Cavaleiros da Virtude usam outras denominações (aprendiz, veterano, veterano virtuoso...), mas o sentido é o mesmo.

Num primeiro olhar o teste de graduação não é uma coisa ruim. Ele premia de forma clara o esforço pessoal de cada participante em se dedicar aos treinos, desenvolver a maestria na sua arma de escolha e de adquirir habilidades úteis a um combate. Mas um olhar mais de perto pode ensejar alguns questionamentos interessantes. Essa separação entre graduados é realmente boa para o grupo ou tende a criar clubinhos fechados e panelinhas de membros?

Para ajudar a responder essa pergunta eu busquei a ajuda do meu velho conhecido antigo colaborador da página, o professor Marcos. Titular da pasta de Educação Física da SEDF, e faixa preta de Kung Fu no estilo Louva-a-deus ele explicou qual é o sentido das faixas nas artes marciais. Segundo ele as faixas indicam o comprometimento do aluno consigo mesmo e com a sua arte. Katas, manobras e golpes especiais só podem ser ensinados à graduados justamente porque eles já dominam os fundamentos básicos e se mostraram dignos de receber esses ensinamentos. No kenjutsu, o kyo (ou nível/faixa) indica que golpes você pode aprender, treinar e usar em combate. Não apenas isso, assegura o professor Marcos, a graduação não vê apenas a questão executória dos golpes. Bons mestres e sensei observam o caráter do aluno. Muitas vezes eles se recusam a passar de nível pessoas habilidosas, mas com temíveis falhas de caráter.  

Mas devido a seu peculiar estilo desportivo de ser o swordplay não tem muito disso. Dificilmente um clã/grupo vai ter a exclusividade sobre uma determinada técnica ou manobra. Como não existe nada parecido com “um faixa preta de sowrdplay” cada praticante é devidamente competente pra pesquisar e treinar seus próprios golpes.  

Assim sendo cada grupo desenvolve sua própria tabela de experiência. Como eu já comentei em outra postagem nos grupos sérios, como a Beufort, a Folkisgate, a Magnus Legio, o Império Kyodai (só para citar alguns) não basta que você tenha uma boa perícia com a espada. Exige-se também um comprometimento que vai muito mais do que ir frequentemente aos treinos. Tem a ver muito mais com outras capacidades como companheirismo, liderança, honra, senso de justiça, coragem, honestidade e outros predicados igualmente indispensáveis.

Alguns membros podem achar conceitos como “companheirismo”, “liderança”, “honra” entre outros difíceis de quantitatizar. E convenhamos, é bem subjetivo. Como saber se o cara que está me avaliando não tem uma rusga comigo ou se não vai olhar com olhos mais cândidos o coleguinha de infância que veio treinar com ele? Como saber se não serei também julgado por minha posição política ou pela minha preferência sexual?  Se você tem esses questionamentos cabe duas opções: buscar os líderes do clã e tentar por tudo em pratos limpos, ou, buscar outro clã para treinar. Eu confio no julgamento dos meus pares e não vejo demérito algum em não passar de nível.

Vale a pena fazer aquele velho autoquestionamento: Estou lutando limpo? Estou aceitando os golpes? Estou lutando em igualdade de condições com pessoas com menos habilidade do que eu? Eu cumpro com o que prometi? Será que eu bato com muita força? Será que sou highlander? Será que fico cantando golpes? Será que não tenho me esforçado o bastante?


No fim, apenas em grupos sem transparência, com óbvias disputas pelo poder (sério isso Arnaldo?) é que a graduação pode ser usada de forma corrupta e leviana. No mais é apenas um efeito da meritocracia. 


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