Parece até que foi ontem que você estava passando pelo parque
e viu aquele pessoal fantasiado batendo espadinhas. Ou foi na televisão, aquela
reportagem com o pessoal no parque da cidade? Ou foi aquele vídeo que aquele
seu colega mais velho estava vendo no celular, na escola? Nem dá para lembrar
direito... Contrariando todas as expectativas você foi até lá e se apaixonou pelo
esporte. Antes que você pudesse perceber já tinha seu próprio tabardo, já tinha
feito sua arma pessoal e já era um dos melhores guerreiros do seu clã. E quanta
coisa bacana você viveu desde que começou a treinar: os amigos que fez, aquela
menina da lança que até hoje não dá bola para você (mas você continua gamadão
nela), aquela manobra épica que você aplicou (só deus sabe como!) e as pancadas
que levou. Puxa parece que faz uma eternidade.
Nesse meio tempo você cresceu. O ensino médio ficou para
trás. É um efeito natural da vida. Acontece com todo mundo. Você está crescendo:
faculdade, emprego, relacionamentos mais sérios, baladas, primeiro carro, morar
sozinho, bancar a própria vida... de repente você se vê sem tempo. Os
professores da faculdade têm certeza que você só estuda a matéria deles, os
chefes são muito piores que o mais exigente dos professores que você teve no
colégio, e como é diferente bancar a balada com a sua própria grana. Parece que
a vida adulta está batendo no horizonte e quando você vê está cada vez mais
complicado curtir seus hobbies antigos: quem tem tempo para ver a segunda temporada
de Jéssica Jones quando aquele professor esquerdista de cheiro estranho exigiu
a leitura e o fichamento de um livro (um livro!)? Quem pode se dar ao luxo de
uma maratona de lolzinho quando a prova de Cálculo I (oh, o terror!) se
aproxima velozmente no horizonte? De repente as responsabilidades são tantas
que quase não sobra tempo para ser você!
Bom, mas são os ossos do ofício. Todo mundo passa por isso.
Todo mundo, cedo ou tarde, tem que assumir seu fardo na sociedade: arrumar seu
lugar ao sol, construir uma vida, buscar uma carreira, edificar sonhos... a boa
notícia é que com um pouco de organização e planejamento você pode ter tudo.
Pode se sair bem na faculdade, ter um relacionamento estável e saudável e
conseguir sobreviver ao seu emprego sem querer matar o seu chefe e ainda assim
ter tempo para fazer aquilo que você gosta: bater espadinhas com os coleguinhas
no parque da cidade.
O segredo aqui é colocar seu tempo em ordem e não misturar
suas prioridades. Sim, o seu escudo precisa de reparos, é verdade. A sua espada
também precisa de uns remendos perto da guarda. Mas tudo isso pode – e vai
esperar. Você tem outras prioridades na frente: textos para ler, trabalhos para
fazer, aulas para assistir, coisas para entregar, novos conhecimentos para
adquirir... é como dizia a minha mãe: primeiro a obrigação, depois a devoção.
Não se preocupe. Você ainda vai poder assistir Jéssica
Jones, jogar lol e treinar espadinhas. Mas tudo há seu tempo: ao invés de ver
todos os episódios da menina mais forte da Marvel comics veja apena sum por
semana; ao invés de doze horas de lolzinho experimente ficar duas horas, no
máximo. E é claro, o seu clã/reino/guilda de artífices vai ter que entender que
você não vai mais poder se dedicar do jeito que fazia antes. Você vai deixar de
ser um “profissional” para ser um “casual”. Delegue funções, pegue mais leve,
procure se encaixar em sua nova realidade. E se tiver que faltar a qualquer
evento de farra por conta de suas obrigações, falte sem medo e sem dó no
coração. Não vale à pena ir ao treino e deixar de estudar para a prova de
Cálculo I (oh, o terror!) ou deixar de fazer alguma obrigação do seu trabalho. Quantas
vezes eu mesmo não deixei de ir aos treinos, com dor no coração, por causa de
alguma obrigação profissional ou social? Mas é a vida que temos e é a vida que
vamos viver.
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