sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Retrospectiva do passado e votos para o futuro

Em fevereiro de 2015 eu comecei minha jornada no swordplay. Começou como a busca por um novo hobbie. Naquele momento de 2015 eu tinha começado duas campanhas de D&D 5ª edição que não foram para frente porque os jogadores não tinham agenda. Foi absolutamente frustrante. E eu precisava ocupar a minha mente com alguma coisa. Coincidentemente vi uma reportagem no DFTV sobre uns loucos que se vestiam de fantasias medievais e ficavam se batendo com armas de espuma no parque da cidade. Lembrei-me na mesma hora do Graal/SP, um grupo de boffer swordplay que eu tinha visto numa convenção de RPG na década de 90. Daí eu pensei... por que não?

Entrei em contato com o meu amigo e parceiro de jogos de longa data, o confrade Leandro Godoy, da confraria das ideias, e pedi indicações de um grupo de swordplay no DF. Haviam vários grupos em vista, mas por comodidade resolvi experimentar o grupo mais próximo de casa. O grupo dos “cavaleiros da virtude” (hoje Eldhestar) ficava a menos de dez minutos de carro. Acertei tudo para o sábado e na semana anterior me dediquei a fazer a minha primeira espada de espaguete de piscina. Pena que a espada não durou nadinha: o cano quebrou antes do fim do primeiro treino. Uma pena. Mas o importante foi que eu me diverti muito e na semana seguinte lá estava eu de novo.  

Eu não era exatamente um novato na luta com espadas. Tinha feito dois anos de kendô/kenjutsu no Instituto Niten, aqui de Brasília e já tinha conquistado o sétimo kyo (não fique impressionado – é algo como a primeira graduação, como se fosse uma faixa cinza de judô). Antes disso tinha pegado toda aquela safra de filmes de piratas e cavaleiros que abundava a sessão da tarde na década de 80. Mas nada disso tinha me preparado para o swordplay.  

Claro, olhando de fora você pensa que é tudo uma grande palhaçada. As poses, os golpes, a movimentação... mas quando é você que está segurando o pedaço de cano coberto com espuma e amarrado com silvertape o seu entendimento muda de figura. E o mais importante: o divertimento flui.

As coisas foram evoluindo e eu deixei de lado a espada de duas mãos e passei a usar um escudo. Eu acabei me adaptando bem ao uso do escudo, tanto é que esse é o estilo de luta que me deixa mais à vontade hoje em dia. Foi nesta mesma época que comecei a me interessar pela forja a um nível mais bacana. Quase toda semana eu crio uma arma diferente. Quando eu levo o meu “arsenal completo” as pessoas dizem que é como se eu levasse armas para um reino inteiro.

Meio que a contragosto eu fui crescendo dentro do esporte. Tudo o que eu queria era um novo hobbie: não queria me envolver com organização, com tretas e com nada que não fosse explicitamente divertido. Alguma coisa para me manter ocupado e longe de imbecilidades como o Luciano Huck ou o Esquenta numa tarde de sábado tediosa. Mas acabou que em vários momentos eu precisei deixar esse desejo de lado e me aventurar em práticas menos divertidas de organização. É como me disseram uma vez: se você quer se divertir tem que ajudar os outros a se divertirem também.

Eu sou, provavelmente, o cara mais velho em atividade praticando o swordplay no DF. Tenho 40 anos – se tiver um tiozão mais velho ou na mesma faixa etária, dê um oi e vamos montar a liga dos tiozões do swordplay – mas não vejo os meus colegas de treino como crianças. Eu os vejo como irmãos de armas, como colegas de treino, e eu trato todos como iguais. Não é porque sou mais velho que vou tratar todo mundo como se fosse meu filho.

Esse ano que passou foi muito duro. Perdemos pessoas incríveis que treinavam conosco, mudamos nossa identidade, estivemos na beira do abismo e às portas da desistência. Mas o importante é que seguimos em frente. Alias, é a única coisa que importa: seguir em frente, não importam as adversidades.


Eu não sei o que o ano de 2017 vai nos trazer. Mas seja lá o que for, pretendo enfrenta-lo de escudo em guarda e espada pronta para o contra-ataque.  É como diz a musica Advanced Wind, da trilha sonora do jogo Wild Arms 3 do Playstation 2: 


My shield is strong, 
I'll take my chances here and now! 
Bring on the fight, 
I'll find a way to win somehow! 
No tomorrows, no regrets, 
I'll risk it all for this brand new day!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Natal, ano novo, recesso e espadinhas

Fim do ano e recesso no swordplay do Betão

A todos os amigos e leitores que me deram a honra de suas visitas e comentários, que acreditaram no meu trabalho e durante este ano caminharam comigo, meu muito obrigado. Com sabedoria, esperança, fé, união e trabalho, fomos capazes de encontrar soluções e caminhos para o nosso querido hobby. Unido com vocês, me tornei mais forte para conquistar e realizar metas ainda mais audaciosas. Por isso eu, Betão do Swordplay e coisas afins, desejo aos leitores e amigos um natal cheio de amor, paz, alegria e boas festas.

Que o ano vindouro possa trazer saúde, desenvolvimento, realização de novos planos e projetos.

Estaremos de volta na segunda quinzena de janeiro de 2017.


Feliz natal, prospero Ano Novo e vida longa ao Swordplay!

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Plus ça change

A primeira vez que vi esta frase ela me pareceu enigmática. Era o título de um conto sobre o universo de shadowrun (um rpg que mistura cybercultura, magia e raças fantásticas).  A frase faz parte de uma expressão idiomática francesa plus ça change, plus c'est la même chose (“Quanto mais muda, mais fica igual.”). No conto ela mostrava o quanto o mundo que conhecemos tinha mudado, mas, na sua essência, continuava a mesma coisa.

Eu gosto de mudanças. Até porque as mudanças são inevitáveis. Você não pode escolher não mudar e em muitos casos não pode escolher como mudar, mas pode escolher como vai reagir as mudanças. Eu prefiro gostar delas. O que nos leva a segunda frase, dessa vez vinda de um dos cartazes promocionais dos quadrinhos dos X-men: Evolua ou morra.

Evoluir. Talvez seja essa a palavra que eu estava buscando desde o começo deste texto. As coisas evoluem e mudam ou então morrem e se acabam. Com o swordplay não é diferente. Se ele nãos e transforma, não evolui, não se modifica, ele acaba ficando perdido no tempo, isolado, fraco e potencialmente esquecido.

Por isso, aqui em Brasília resolvemos promover algumas mudanças na nossa maneira de fazer Swordplay. Estamos buscando mudanças que promovam o crescimento do grupo, fortaleça a sua identidade, e nos livre de certos problemas que nos atormentam nos dias de hoje.

Então, como resposta ao processo de mudança eu tenho a honra e o prazer de apresentar para vocês o novo sistema de graduação dos treinos dos Cavaleiros da Virtude (esse nome brega vai mudar também, pode eperar...)

Sistema de graduação
A ideia por trás desta proposta é criar um sistema de graduação que independa das famosas “panelinhas” onde apenas os amiguinhos do rei ou os coleguinhas dos nobres do reino consigam postos e graduações avançadas.

É importantíssimo salientar que a patente não deve significar poder e sim merecimento. Ela mede o desenvolvimento pessoal do membro em busca de seu constante melhoramento e o seu comprometimento com a Aliança e seu Reino. Ser um cavaleiro tem muito mais a ver com querer servir mais do que mandar mais do que os outros. Claro que existe alguma glória envolvida, mas ela não passa de uma sombra do que é o trabalho duro que será desenvolvido adiante.

Criamos 6 níveis num total (esses números podem ser escalonados de acordo com o seu grupo): Aprendiz, Soldado/guerreiro, Sargento, Capitão, Cavaleiro, e Lorde. Sendo que este último é membro do conselho de cavalaria, abaixo apenas o do rei, sendo que se só se chega a ele por convite de outro lorde ou membro ativo do conselho de cavalaria.

O sistema de graduação foi pensado para que uma pessoa que deseje, consiga ascender de Aprendiz a Lorde em apenas dois anos – Um ano e meio se ele for excepcionalmente bom. O sistema de graduação não é obrigatório: participa quem quer.

Níveis

Visitante: Todo mundo que vem no treino pela primeira vez ganha automaticamente esta patente. O visitante tem pouca ou nenhuma obrigação com a Aliança ou o Reino.

Aprendiz: Aquele membro mais constante, que já fez a ficha de cadastro, já tem sua bata e já compareceu pelo menos 4 treinos ou eventos.

Soldado/Guerreiro: Membro disciplinado. Já pode representar a Aliança ou seu Reino em eventos, como festas, encontros e etc. Também já pode se inscrever como staff.

Sargento: Já pode ajudar na organização do Reino ou da Aliança. Pode, em caso de guerra, comandar um grupo de até 10 pessoas (soldados, aprendizes ou outros sargentos), como uma unidade coesa. Ele já pode passar treinos, corrigir posturas e ajudar mais ativamente os outros membros a atingirem o seu desenvolvimento.

Capitão: Além de liderar várias unidades o capitão é responsável pela elaboração, aplicação e correção dos testes de graduação. Cabe também ao Capitão zelar intransigentemente pelos 3 H’s da Aliança (Honestidade, Humildade e Honra), garantindo que todos os membros sob seu comando conheçam e sigam essas diretivas.

Cavaleiro: Porta de entrada para o Conselho e para a patente de Lorde. Além da todas as obrigações dos outros níveis o cavaleiro deve ser exemplo vivo de tudo aquilo que a Aliança prega. Apenas Cavaleiros podem ser chamados para serem ajudantes do Conselho da Cavalaria.

Lorde: Membro Ativo do Conselho. São os ideias da Aliança feitos em carne e osso.
A cada treino e realização o membro da aliança receberá uma quantidade de Experiência (XP). Ao acumular bastante experiência esse membro pode pleitear participar de um teste de graduação. São ao todo três testes por ano.

O teste Oral versará sobre a história do seu Reino e da Aliança.

O teste Escrito versará sobre estratégia militar e movimentação de tropas em campo, além de questões objetivas sobre ética e moral.

O teste de combate mede a capacidade e a tenacidade do combatente.

Para passar de Aprendiz para Soldado/Guerreiro, o membro terá que ter uma taxa de acertos de 60%.
Para passar de Soldado/Guerreiro para Sargento, o membro terá que ter uma taxa de acertos de 65%.
Para passar de Sargento para Capitão, o membro terá que ter uma taxa de acertos de 75%.
Para passar de Capitão para Cavaleiro, o membro terá que ter uma taxa de acertos de 85%.
Para passar de Cavaleiro para Lorde, o membro terá que ter uma taxa de acertos de 95%, além da indicação do Conselho em si.

Tabela de Experiência (XP)
Cada Treino
10 XP
Treino Conjunto
50 XP
Encontro Brasiliense de Swordplay
100 XP
Encontro Paulista de Swordplay
100 XP
Torneio (outro reino)
50 XP
Torneio (local)
25 XP
Membro de Staff (outro reino)
30 XP
Membro de Staff (local)
30 XP
Forjador de Armas
50 XP por arma aprovada
Armoreiro
50 XP por peça de armadura aprovada
Costureiro
50 XP por peça de roupa aprovada
Emissário
Variável
Outros
(Variável)


Só serão validos treinos e eventos em que a pessoa realmente participe. Ficar sentado debaixo das árvores, batendo papo, é legal, mas não dá XP! Bom também ficar esperto para os eventos especiais que dão XP em dobro.

Quantidade de XP por nível
Visitante: 0 XP
Aprendiz: 0 XP (4 treinos e bata)
Soldado/Guerreiro: 300 XP
Sargento: 620 XP
Capitão: 960 XP
Cavaleiro: 1320 XP
Lorde: 1720 XP
Exemplo: Pedro é aprendiz. Para se tornar um soldado ele tem que acumular 300 XP para fazer o teste. Para passar no teste ele tem que ter pelo menos 60% de acertos. Se ele passar, receberá sua patente imediatamente. Se ele falhar vai ter de esperar a próxima graduação.
É OBRIGÇÃO EXPRESSA DO APLICADOR DO TESTE explicar porque o pleiteante não passou e o que ele deve fazer para obter sucesso na próxima empreitada. Neste caso, o pleiteante pode solicitar:
a)                 que seja feita uma revisão de sua nota;
b)                 que o reino lhe designe um tutor para orientá-lo nos treinos seguintes.


Essa é a primeira grande mudança. Nas próximas postagens eu pretendo esmiuçá-las um pouco mais. 

sábado, 12 de novembro de 2016

Quem não vive para servir não serve para viver.

Servindo...


Eu sempre gostei de lutas com espadas. Boa parte da culpa disso vem dos antigos filmes que passavam na sessão da tarde: atores como Errow Flinn, Tony Curtis, Douglas Fairbanks e tantos outros mantiveram acessa a chama da esgrima em mim.

Com o passar dos anos eu fui descobrindo que não existia apenas a esgrima europeia e me apaixonei pela esgrima japonesa. Lendo inicialmente as Tartarugas Ninja (Leonardo usava duas katanas) e depois passando para o desenho dos Thundercats (Hashiman, o samurai do terceiro mundo!) eu vim a me tornar fã de carteirinha da cultura japonesa. Não vou mentir: foi uma decepção, quando no auge dos meus doze anos de idade, descobri que palavra samurai significava “servo” ou “aquele que serve”. Foi um balde de água fria nos meus kiais.

De certa forma eu não tinha ainda maturidade para entender isso. E às vezes essa maturidade demora para chegar. Eu só fui aprender mesmo o significado de samurai quando, muito tempo depois de Leonardo e Hashiman, eu pus os olhos em Xógun: a fantástica novela de James Clavell.
Então eu descobri que não apenas o termo samurai estava certo como também tentei transpor para a minha vida pessoal algumas de suas práticas. Cheguei mesmo a praticar Kenjutsu e tenho algumas espadas samurai soltas aqui em casa.

E o que eu quero dizer quando o assunto é ser samurai, no swordplay? É brandir uma katana de espuma e fazer poses fodas depois de matar alguém? Bom, também é isso. Tem muito mais a ver com o seu interesse no esporte em si, no seu grupo, em como você trata os outros e em como você se comporta.

Ter o espírito marcial do samurai aplicado ao swordplay é trazer parte do que significa ser um samurai. O primeiro passo para fazer isso é a simplicidade. Simplicidade é dar um passo acima da complexidade. Simplifique sua prática no esporte. Fazer simples não significa fazer de qualquer forma. Torne o seu treino e a si mesmo mais leve, dispensando as rotinas, discussões e burocracias que não servem para nada. Simplifique e facilite apenas para ter mais energia e trabalhar ainda mais. Ao invés de carregas dúzias de espadas que você sabe que não vai usar no treino, leve apenas as de seu uso. Uma mochila leve ajuda a transportar um homem cansado no fim de um treino. Facilite as coisas sempre que puder, seja para você ou para os outros. Se você ver que o líder do seu grupo esta com dificuldade para organizar a galera, simplesmente dê um passo à frente e o ajude a fazer isso. Não espere o convite.

Se você não quer subir, ninguém pode te ajudar a subir. Essa frase foi dita por um antigo sensei de judô e hoje eu entendo o seu significado com perfeição. Para ser ajudado você tem que querer se ajudar. A motivação é interna, alguém pode te incentivar, educar, inspirar, mas tomar a decisão de subir é sua, somente sua, nesse sentido você é o único e total responsável pela sua vida. Você pode ir ao treino e ficar debaixo das árvores conversando sobre Pokemon Go (alguém ainda joga isso?), ouvindo K-pop ou pode simplesmente pegar seu equipamento e cair para dentro. A escolha é sua. Tome uma atitude e faça sempre o seu melhor.

Você não pode mudar as estações do ano, mas ode mudar como você age em relação à elas. Você não precisa gostar da atitude daquele amigo que é highlander, mas pode mudar sua relação com ele. Tente conversar com ele fora do treino, explique o que houve, tente dialogar. Se não funcionar tente outra coisa. E mais outra. E outra. Cedo ou tarde você vai descobrir alguma coisa que funciona.


Era isso gente. Boa semana para todos. 

domingo, 6 de novembro de 2016

O que você pode fazer para que seu evento seja melhor

Então, você e o seu grupo fizeram um evento qualquer. Pode ter sido o primeiro encontro de swordplay da sua região, um workshop dentro de um evento de anime, ou simplesmente uma intervenção cultural dentro de um evento maior, mantido por uma escola ou universidade. Seja lá como for o evento terminou e você percebeu que ele não foi exatamente do jeito que você queria.

Acontece. Mas nada de sair aí por aí apontando o dedo na direção de todo mundo, dizendo quem errou ou quem deixou de fazer o quê. Vale a pena fazer alguns questionamentos, mesmo que você não tenha sido um dos organizadores. Algumas dessas perguntas vão ajudar você a perceber que mesmo não sendo um dos organizadores você também é responsável pelo evento.

Pergunte a si mesmo: estou sendo amigável e prestativo?
Mesmo que você não faça parte da organização, é uma de suas obrigações ser amigável e prestativo com todas as pessoas que foram convidadas e que estão prestigiando seu evento. Quando fui à São Paulo para um encontro Paulista de Swordplay eu fui muito bem recebido por todas as pessoas com quem tive contato. Não teve nenhuma delas que me recebeu com menos do que um sorriso. Isso deixa impressão muito positiva para qualquer pessoa.

Pergunte a si mesmo: estou sendo positivo sempre?
O segredo aqui é espalhar o bom humor com o seu melhor sorriso. Demonstre sempre que você tem uma atitude "sem problemas". Aliás, se você puder ser um solucionador de problemas ao invés de um causador de problemas, tanto melhor. Tenha em mente que você será sempre observado, dentro e fora dos exercícios, das lutas ou de quaisquer outras atividades. Mesmo durante os intervalos os participantes do evento observam tudo o que está acontecendo. As atitudes falam muito mais do que palavras. Lembre-se que as pessoas não vão a um evento em busca de mau humor ou pessoas negativas: elas querem se divertir. Seja parte ativa disso.

Pergunte a si mesmo: Como está minha aparência?
Se você vai participar de um evento vista-se à caráter. Demonstre o seu respeito pelos participantes, pelo evento em si, e por si mesmo. Essa é a primeira impressão que você vai passar sobre o nosso Esporte. Uma bata suja, rota e rasgada, somada a um equipamento fedido e mal cuidado não vão fazer você parecer um lutador “badass” e sim um coitado.

Pergunte a si mesmo: você é Pontual?
É muito importante ser pontual. Seja pontual e ajude os outros a serem também. Se você marcou o treino para começar às 15:00, comece o treino às 15:00. Mesmo que os outros não tenham chegado. Quando você começa a ser pontual os outros aprendem que você é pontual e acabam se adequando a sua pontualidade. Se ele sabe que o evento começa impreterivelmente às 15:00 eles vão fazer de tudo para estar lá no máximo às 15:00.

Pergunte a si mesmo: eu estou focado naquilo que estou fazendo?
Poucas coisas são mais desagradáveis do que você conversar com alguém e perceber que ela não está dando a devida atenção ao que você está dizendo. Quando você não se concentra naquilo que está fazendo, está abrindo uma porta perigosa para que enganos e acidentes aconteçam. Se o seu trabalho é flanquear pelo lado direito do campo ou instruir os novos colegas em como usar um boffer, é isso que você deve fazer. Concentre-se em fazer aquilo que você tem que fazer da melhor maneira possível. E se você perceber que não foi talhado para aquele tipo de missão, não pense duas vezes e peça ajuda a alguém.

Pergunte a si mesmo: Estou prestando atenção nas apresentações e nas atividades?
Qualquer que seja o seu papel no grupo ou no evento prepare-se muito bem pra ele. Cada tarefa, por menor que seja, é importante para o sucesso do evento. O seu nível de energia deve ser alto. A sua atenção ao que está acontecendo pode ajudar a refinar todo o conteúdo e ensinar coisas que você jamais pensou em aprender. Se você estiver focado de verdade também poderá corrigir quaisquer e interrupções errôneas por parte dos participantes, caso venha a ser questionado por eles.

Pergunte a si mesmo: estou demonstrando interesse genuíno em cada convidado?
Trate cada convidado do seu evento como se ele fizesse parte do seu grupo. Mesmo que você não seja da organização do evento, você está vestindo as cores do seu clã ou do seu grupo. No evento ninguém vai olhar para mim e dizer simplesmente “o Betão”. Vão olhar para mim e vão dizer “o Betão dos Cavaleiros da Virtude”. A maneira como você trata cada um dos convidados vai ser reputada ao seu Clã.

Pergunte a si mesmo: eu contribuí para tornar o evento divertido, simples e mágico para todos?
Como membro da sua equipe, você espalhou otimismo e entusiasmo para todas as pessoas? Ajude as pessoas a entenderem que o swordplay é uma atividade divertida, simples e mágica. Todos temos um excelente motivo para estar ali, e um motivo ainda melhor para estarmos felizes.

Espero que este texto tenha contribuído para o entendimento de todos. O evento não é só dos organizadores. É de todos nós.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Dignidade

Digno

Quando estava na faculdade de História tive uma professora muito rígida. Ela era uma excelente professora, não me entenda mal, mas era rígida como uma barra de aço. Eu me lembro que a primeira frase que ela me disse quando nos conhecemos foi “se você faltar mais alguma aula eu vou reprová-lo por faltas”, ao que eu respondi “pois aproveite bem, pois essa será sua ´única chance de me reprovar”. Mesmo com algumas rusgas ocasionais entre nós eu aprendi a admirá-la e respeitá-la, não apenas como profissional, mas também como ser humano. No fim do ano já éramos amigos. Por meu intermédio ela ficou conhecendo os livros da minha mãe. Acabaram amigas. Anos mais tarde minha mãe comentou comigo que tinha recebido carta dessa professora em especial. Na carta ela me descrevia como uma “um homem bom e digno”.

Eu já recebi muitos adjetivos na vida, mas esse foi um do que me marcou muito. Eu era, na opinião de uma das professoras mais competentes que eu já tinha conhecido, uma pessoa digna.
“E o que isso tem a ver com swordplay?” pergunta aquele rapaz com armadura negra, correntes e lentes de contato branca. Que para falar do que aconteceu no EBS desse ano eu preciso falar de dignidade.

Digno é aquele que é Honesto; que expressa decência. Honestidade é o que o evento transpareceu, mesmo que não tenha cumprido tudo aquilo que se propôs a fazer. Honesto foi o que foi feito da forma que foi feito; se não a melhor forma possível, a melhor forma para o momento. Faltaram coisas, é fato, mas muito do que faltou foi compensado com boa vontade, sorrisos e a vontade tremenda de fazer dar certo. Trabalho honesto é uma forma de determinar o que foi feito pelos organizadores do evento. Digno de melhoras para os anos que se seguirão.

Digno também é aquele que é Merecedor; que merece admiração. Como o pessoal do DK, que comprou a ideia do evento e se aventurou para fora do Rio de Janeiro para bater espadinhas comigo e com meus compatriotas de PI30 e fibra de vidro. Merecedores de todos os louros de vitória que nenhuma competição pode trazer. É de gente assim, destemida que se faz um hobbie como o swordplay. E também são merecedores de um sincero pedido de desculpas por minha parte. Sei que palavras não podem apagar o que houve, mas ações sim: saibam que vou fazer tudo ao meu alcance para que fatos como aqueles nunca mais se repitam. E Gêge, você só acertou quatro de vinte no desafio, ok?  Igualmente Digno foi o pessoal dos "Star Warriors" e mandar um abraço especial a todos os "Protetores da Cachoeira do Makka-Kuh" - TO que vieram contribuir com o crescimento do nosso evento e também garantir que retribuiremos a visita. Vocês lutaram com muita coragem e dignidade na linha da massiva. A coragem de vocês me inspirou.

Digno é aquele que é Apropriado; que é conveniente. Digno é o Rei Juan Sebastian, líder da Aliança de Beufort (se estiver grafado errado vai ficar), que se desdobrou como ninguém para tentar apagar os incêndios que apareceram quando as coisas esquentaram; que correu como um louco tirando os “gatinhos presos em árvores” que apenas um evento daquele tamanho pode trazer. Também Digno é o Mestre Lukão, que manteve o Alamut unido e longe de encrencas.  

Digno que é aquele que é Decente; que tem bom caráter; de boa conduta; que demonstra dignidade: todos os swordplayers que defendem o lema de H’s da Aliança: Humildade, Honra e Honestidade. A vocês, Cavaleiros da Virtude, Cavaleiros de Nova Ibelin, Grifos de Prata, e todos os Mercenários meu muito obrigado.

Não foi o evento que eu queria, mas foi um grande aprendizado. Que venham os próximos.


PS: teve também o “Blind Ear”, valendo um livro. Noutra postagem eu falo sobre isso. 

domingo, 23 de outubro de 2016

Errar ou faltar?

Crime e Castigo (Fiódor Dostoiévski)
Chegou a minha atenção, graças à três leitores, que existem grupos em que as punições são exageradas, ou injustas. Inadequadas. Pediram que eu escrevesse algo a respeito.

Ser professor é uma das experiências mais difíceis que se pode experimentar. É igualmente uma das mais gratificantes. Entretanto existe muita coisa da dinâmica de ser professor que não é ensinado na universidade. Uma dessas coisas, e que faz parte da ação diária do professor, é a manutenção da ordem em sala de aula, e a punição quando existe a transgressão dessa ordem social estabelecida.

É quase assustador de se pensar que em todos os anos que eu fique na faculdade não tive sequer uma aula sobre como administrar faltas, castigos, punições, erros, desatenções, negligências e descuidos. Boa parte do que eu sei sobre o assunto hoje veio da minha experiência pessoal ao lidar com as situações do dia a dia, a troca de experiência com outros professores e com as pesquisas que eu fiz em busca do meu auto-aperfeiçoamento.

E por que diabos eu estou falando disso tudo aqui antes de falar de assuntos relacionados à espadinha? Porque eu queria deixar claro para você, leitor, que aplicar punições não é uma coisa fácil. Tem muitas variáveis a serem consideradas e se tem uma coisa que eu aprendi ao longo dos anos é que muitas vezes a punição é usada de forma errada.

Sometimes the punishment don’t fit the crime (Aerosmith)
Punir de forma adequada é uma das coisas mais complicadas que existem. A nossa sociedade ocidental tem mais ou menos 5 mil anos e até agora não aprendemos ou desenvolvemos uma forma eficaz de punição. Mas para jogar um pouco de luz sobre esse assunto temos que separar o que é punição, o que é erro, e o que é falta.

Como o swordplay é uma atividade esportiva faz sentido começar com a palavra falta. Falta é o ato ou efeito de faltar alguma coisa; deixar de agir da forma que é esperada; agir deliberadamente contra as regras. É a infração da regra como vemos no futebol, ou em outros esportes.

No cotidiano a falta tem um peso de intencionalidade que o erro não desfruta. O erro é entendido como um reflexo de uma ação mal sucedida. Pode também significar uma tentativa de inovação, fazendo parte de um duro processo de aprendizagem. Ninguém é imune ao erro. Partindo dessa premissa, o erro é um ato a ser corrigido.

A punição, por sua vez, é um processo no qual se reduz a probabilidade de determinada ação ou atitude voltar a ocorrer através da apresentação de um estímulo aversivo, ou a retirada de um estímulo positivo após a emissão de determinado comportamento indesejado. Essa é a definição da psicologia comportamental e pode muito bem ser estendida para outras áreas da vida social. Quando o motorista estaciona em local proibido ele recebe uma multa, algo que lhe é danoso ou ofensivo. Dessa forma, espera-se que o medo de receber outra multa impeça o motorista de estacionar novamente em local proibido.

Tanto para aqueles que legislam quanto àqueles que acatam e promovem a norma social vigente devem ter noção de saber quando uma punição é justa ou não. A criança que intencionalmente destrói um brinquedo de outra criança deve ser punida de forma diferente daquela que, por acidente, quebra um brinquedo. É o que os advogados chamam de “dolo”, ou intenção de fazer alguma coisa.

E o que o swordplay tem a ver com isso? – pergunta a adorável menininha de cabelos loiros encaracolados e olhos clarinhos segurando uma lança capaz de atravessar sem dificuldades um javali.  Tem a ver que se um líder quer ser um líder de verdade tem que aprender a dura lição de separar o que é erro do que é falta.

“Educai as crianças e não será preciso punir os homens” (Pitágoras)
Quando eu fazia kenjutsu no Instituto Niten aqui de Brasília tinha como sensei um dos homens mais fantásticos que já conheci: o senpai Ricardo Lopes. Atrevo-me a dizer que se houvesse uma guerra dentro do Niten e de um lado ficasse o sensei Jorge Kishikawa e do outro o senpai Ricardo eu não teria dúvidas de lutar ao seu lado.

Devido a compromissos profissionais ele teve de se afastar um pouco dos treinos. A sua esposa, senpai Silvana, assumiu o treino com a ajuda de outros graduados. Entretanto a senpai Silvana não tinha o mesmo carisma e trato do senpai Ricardo. Para piorar a situação ela passou a exigir demais de todos nos treino. Não que aquilo me incomodasse. Eu gosto da disciplina japonesa. Mas nem todos se sentem assim. Muitos amigos que hoje praticam apenas swordplay ou fazem parte do Clube do Livro saíram por causa dela. Do seu jeito muito duro de puxar os treinos. Mas era nas punições que ela se destacava. Qualquer coisa era o bastante para se pagar “sapinhos” (uma série de agachamentos feitos com a coluna rela e as mãos atrás da cabeça). Em certa ocasião, um colega de treino não compreendeu bem a instrução dada por ela, por entrar em conflito com uma instrução anterior dada pelo senpai Ricardo, perguntou a ela qual era a forma correta.

- Fulano! Quem é você para questionar um instrutor? Trinta sapinhos, agora!

Mesmo que eu não me incomodasse com a disciplina do Niten eu fiquei incomodado com aquela situação. Um incômodo que cresceu quando o meu colega resolveu abandonar os treinos. O mesmo se deu comigo. Eu não me sentia mais “em casa” com aquele tipo de tratamento. E olha que eu já tinha investido pesado numa armadura de treino (bogu) e nas espadas (shinais).

Agora, raciocine comigo, você leitor que também é líder de um clã: se uma punição desmedida fez uma pessoa abandonar o kenjutsu, numa das mais sólidas instituições do Brasil, imagine o que uma bronca, punição ou corretivo mais duro e sem justificativa podem fazer com o seu grupo? Se você forçar demais a barra pode chegar o dia que vai ter de treinar sozinho!

Anteriormente eu falei que o erro não deve ser confundido com a falta. Embora o erro seja humano, a sua afirmação não é uma justificativa e sim uma explicação. Erramos porque não somos perfeitos. Erramos porque não fomos ensinados corretamente.

E se erramos, o erro pode ser uma forma de aprendizado? Uma forma sim, mas não a forma. Se você parte da premissa que só se aprende errando tem alguma coisa muito errada em você. Alguns erros são mortais e irreversíveis – paga-se um preço muito alto para se aprender com erros, eis o porque seus ensinamentos são tão valiosos.

Corrigimos o erro para que aquele que erra, tomada a consciência de seu ato, faça direito (ou esforce-se mais) da próxima vez. Não se deve punir o erro e sim punir a negligência, a desatenção e o descuido.

Costumeiramente nos acertamos em zonas proibidas durante os treinos dos cavaleiros da virtude. Isso porque arriscamos acertar e romper defesas cada vez melhores. O pedacinho do ombro que está descoberto está perto demais do pescoço, ou a postura dele deixa um pedaço da cintura descoberta. E o que acontece quando acertamos nossos colegas de treino nesses momentos de tentativa e erro? Pedimos desculpa, sorrimos e entregamos à vitória a quem acertamos. E só. Não precisamos ouvir broncas, nem sermos escrachados na frente de todo mundo. Especialmente não precisamos pagar sapinhos – eu não pagaria já que meus joelhos me abandonariam depois disso.

Eu aprendi com o Dr. Mário Sérgio Cortella que se deve elogiar em público e repreender em particular. E isso fez maravilhas para a minha aula. Imagino como poderia beneficiar centenas de grupos de swordplay Brasil à fora.


A grande lição a aprender aqui é ser parcimonioso. Pergunte a si mesmo: a pessoa errou ou cometeu deliberadamente uma falta? Estou sendo justo na punição? Se fosse comigo eu ficaria com raiva/vergonha e não voltaria no próximo treino? Pense nisso. 


Serviço:
https://draikaner.wordpress.com/o-grupo/boffering/

domingo, 9 de outubro de 2016

Fibra ou cano? PI ou Espuma? E o que eu tenho a ver com isso?

Quando comecei a treinar swordplay eu não sabia de nada ou de quase nada em relação a construção de espadas. Aliás, nem sabia que haviam outros equipamentos como lanças, maças, arcos e escudos. Eu me lembro de ter aparecido nos treinos dos Cavaleiros da Virtude (Santa Maria, DF) usando uma bata verde, os restos de uma fantasia de cavaleiro que eu tinha usado num dos EIRPGs da vida e com uma espada que eu tinha forjado sem ter a menor ideia do que eu estava fazendo.

De lá para cá passou tanta coisa... eu comecei este blog, participei de eventos, treinei pra caramba e me aventurei na construção de armas para valer. No meu currículo já tem de tudo: lanças, adagas, espadas – de todos os tamanhos e formatos – maças, manguais, arcos, escudos e até armas de cosplay (como Cypher da série de jogos de plataforma Strider).

A única coisa que eu não forjei foi a famigerada fibra de vidro e o mítico PI 30. Mas tenho pelo menos três armas feitas desse material e já vi suas forjas mais de uma vez. Tenho certeza que se fosse preciso eu saberia forjar uma espada desse material com a mesma facilidade que eu forjo outras espadas.

Até pouco tempo atrás eu achava que as armas feitas com o combo “PI+Fibra” eram superiores às armas feitas com o combo “Cano+Espuma”. De certo o conjunto “PI+Fibra” permite que um ferreiro mais habilidoso faça espadas mais finas e realistas. A fibra é virtualmente inquebrável e o PI resseca e estraga numa velocidade bem inferior ao espaguete. Como são mais finas, e de certa forma mais “aerodinâmicas”, as armas de “PI-Fibra” tendem a serem também mais rápidas e ágeis que suas contrapartes de “Cano+Espuma”. Mas uma coisa mudou a minha opinião para algo diferente.

No treino deste sábado (08/10/2016) recebemos a visita de Airon, um dos regentes da Aliança de BeuforT (grupo ao qual os Cavaleiros da Virtude são filiados). Ao final do treino ficamos conversando sobre swordplay e outras coisas quando começamos a falar de forjas. Mostrei algumas de minhas criações e ele comentou que preferia armas de “Cano+Espuma”.

“Acho que para o boffer swordplay as armas de cano e espaguete são melhores. Elas são bem mais baratas e qualquer um pode fazer a sua. Ademais elas são rígidas e não têm tanto efeito chicote quanto as armas de fibra. Outro ponto é que o cano já tem o tamanho certo da empunhadura. Se você quiser alguma coisa diferente é só aquecer o cano e apertar com pedaços de madeira”.

A colocação dele me fez pensar. Tenho espadas ótimas, de boa qualidade mesmo, feitas de espuma. São armas confiáveis e que seguem os padrões de qualidade que eu gosto de seguir: leves, seguras e que não machucam. Sempre que um colega meu pega nelas comenta que são leves e macias. É preciso muita força ara machucar alguém quando você usa uma espada “by Betão”. Então como elas podem se assim tão inferiores as armas de PI 30?  

Desde aquela conversa eu tenho pensado que não existem armas melhores ou piores: existem armas diferentes que atendem a gostos diferentes. É importante ler além das informações técnicas e especificações de cada produto para saber se você se dá bem com essas armas ou não.


De minha parte vou continuar usando as armas que eu tenho, mas, alternando um pouco mais entre os modelos que eu fiz e os que eu encomendei. Quem sabe eu não aprenda uma coisa ou duas a mais sobre a construção dessas armas maravilhosas? 

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Abuso de poder no swordplay

Mais um artigo, mas dessa vez a sugestão foi dada pelo meu amigo Victor da Silva.

Olá Betão. Queria que você fizesse um texto em seu blog a respeito do abuso de autoridade no swordplay. Ou seja, o cara que tem a patente maior, ou sua patente pertence à nobreza que comanda as patentes menores, desmerece pessoas que tem patente menor, não escuta ideias do grupo, chegam até humilhar, enfim. A falta de humildade com as pessoas que alguns líderes têm. Um texto sobre a liderança resumindo, só isso.
Valeu, abraços.
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“Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder” (Abraham Lincoln)
Um aviso antes de começarmos. Se você não gosta de filosofia e acha que é tudo loucura da esquerda pare de ler por aqui. Tenho outros artigos aqui no blog que você pode se interessar. Mas esse aqui, especificamente, eu trabalho sob a ótica da filosofia. Para ser mais exata, a ótica prevista pelo autor Michel Foucault (pronuncia-se Fuucô).

Na sua obra “Vigiar e Punir”, Foucault apresenta um amplo estudo sobre a disciplina na sociedade moderna. Nas palavras parafraseadas do autor “uma técnica de produção de corpos dóceis”. Foucault analisou os processos disciplinares empregados nas prisões, considerando-os exemplos da imposição, às pessoas, e padrões "normais" de conduta estabelecida pelas ciências sociais. A partir desse trabalho, explicitou-se a noção de que as formas de pensamento são também relações de poder, que implicam a coerção e imposição.

Aliás, todas as nossas relações com os outros são relações de poder. Ao contrário do que a maioria das pessoas acredita o poder não vem apenas de forma piramidal, vindo do topo para a sua base, mas sim acontece em formato de “teia”, espalhando-se em várias direções. Esses “micro poderes” estão presentes na obra de Foucault. Ele afirma também que não é possível possuir o poder, como se fosse um objeto, mas tão somente fazer uso prático do poder.

“Tá bom... eu te dei uma chance Betão. Tô aqui faz três parágrafos ouvindo falar sobre esse filósofo que mais parece o ‘Tio Chico’ (uncle Fester/tio Funério) da família Adams e ainda não entendi o que picas isso tem a ver com o seu artigo”, perguntou o rapaz com bata branca e cabelos desgrenhados, magro como um sibito, portando duas adagas de EVA.

Ora meu amigo, as relações que temos uns com os outros são relações práticas de poder. Logo, o abuso por parte dos líderes nada mais é do que um crime de poder. É uma forma de controle social, em que a submissão do outro é o que importa.

“Grandes poderes trazem grandes responsabilidades!” (Stan Lee/Ben Parker).
“Poder corrompe. Poder absoluto corrompe absolutamente”. (John Emerich Edward Dalberg-Acton – putz! e eu sempre pensei que era de Rousseau!)
As consequências de um tratamento grosseiro no ambiente de treino são sérias e comprometem o resultado do grupo como um todo. “O jogador fica menos criativo, produz menos, joga com menos qualidade, se torna menos ousado e, no limite, deixa de jogar”, afirma a estudante de psicologia e ex-jogadora Mariana F. Lima. Além disso, uma pessoa maltratada num local que deveria ser uma fonte de alegria e prazer reage de forma negativa, em certos casos retaliando abertamente.

Tanto homens quanto mulheres fazem parte desse time, indiscriminadamente. A diferença está em como cada um se manifesta. Enquanto eles reagem de maneira ostensiva, gritando impropérios, por exemplo, elas não usam palavrões nem aumentam a voz, mas sabem exatamente como ser cruéis e abalar a autoestima do colega jogador.

Os motivos para atitudes desse tipo são variados: vão desde o líder de clã inseguro que precisa se respaldar no medo do subordinado para se sentir competente até aquele que é assim por puro prazer ou falta de informação.

O pior é que este comportamento rude, de abuso de poder, tende a ser copiado. Estatisticamente falando um a cada quatro jogadores acreditam que ser líder “é ser bruto e grosseiro”. Essa é a mesma estatística revelada por uma pesquisa americana que lida com o abuso de poder no ambiente corporativo. Ainda há os que acreditam piamente que estão fazendo um favor a seus colegas de treino.  “É a síndrome do treinamento de anime”, como afirma Mariana, “eles agem de forma rude, pois acreditam que isso ajuda seus comandados a aguentar a pressão. Como se fosse um treinamento para que as pessoas sejam mais fortes”.

“Você é a doença, eu sou a cura” (Sylvester Stallone)
“E como lidar com isso tudo?”, pergunta a menina baixinha de cabelos encaracolados que está terminando de por silver tape numa lança novinha. Ao entender que se trata de uma relação de poder, você deve interromper o fluxo de poder daquela pessoa.

Com a ajuda da Mariana eu elenquei 6 atitudes que você pode tomar para ajudar a resolver sua questão.

1 Seja racional. Enfrente a situação como se fosse mais uma tarefa do dia-a-dia, sem deixar a emoção interferir. Chorar ou sair correndo não ajuda, tão pouco guardar os sentimentos ruins para si e ficar chateado também não. O ignorante é ele, não você. Seja educado, porém firme: “Olha Paulo mesmo sendo líder você não tem o direito de falar comigo dessa forma. Exijo que você demande a mim o mesmo respeito que eu demando a você”.

2 Evite o confronto (se possível). Evitar conflitos é mais inteligente a se fazer, mas tem horas que você simplesmente não consegue. Nessas horas não caia na tentação de usar as armas da oposição. Seja simples, assertivo e firme. “Escute aqui Lucas, eu entendo que a estrutura do nosso grupo tem uma estrutura militar, mas acho que você está abusando de sua posição de liderança. Aqui não é o exército. Estamos aqui todos para nos divertir e não para ser humilhados. O trabalho do líder é nos guiar para que possamos melhorar e não nos fazer sentir pior a cada vez”.  

3 Mantenha a tranquilidade. Fale com seu líder tirânico o mais baixo e calmamente possível, como se nada estivesse acontecendo. Em algumas situações, vale até pedir para ele repetir alguma ordem, caso você não tenha entendido. E pense sempre antes de responder a uma grosseria.  “Dá para repetir, por favor, Andréia? Não entendi o que é para fazer”.

4 Lembre-se do Capitão Planeta (ah como me senti velho agora): o poder é de vocês. Ele é o líder do grupo, certo? Mas ele só é líder do grupo porque existe um grupo. E o grupo só existe porque tem pessoas que o frequentam. Ou seja, é você e seus colegas que permitem que o líder chato os trate assim. A partir do momento em que vocês se organizam e demandam o tratamento adequado das duas uma: ou o cara se conscientiza e muda ou ele se muda do time.

5 Escancare o verbo. Se ser discreto não está funcionando jogue a merda no ventilador na frente de todo mundo. Busque o conselho do reino ou se uma a outros colegas para exigir o seu direito: o de ser tratado de forma digna. Porque, no fim das contas, um título é só isso: um título. Não vale nada.


6 Se nada mais deu certo, parta para outra. Ficar no grupo quando o abuso continua só vai piorar para você. Saia de lá e monte seu próprio grupo. Contate os descontentes com a atual gestão e bola para frente. O importante é ser feliz.  

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Assédio no swordplay




E tudo começou com um e-mail
Olá tio Betão (rsrsrs)
Como vai? Eu me chamo XXXXXXXXX, tenho XX anos e atualmente treino swordplay com o grupo XXXXXXXXX aqui de XXXXXXXXX. Eu sempre leio seu blog e gosto muito da forma que você escreve. (...) Por conta da faculdade ando meio afastada dos treinos, mas sempre que posso dou uma escapadinha para treinar. (...) O motivo do meu contato é que eu queria pedir que você escrevesse um texto falando sobre o assédio que as meninas sofrem dentro do swordplay. Eu mesma sofri muito assédio quando eu comecei, mas parece que as coisas deram uma estabilizada. (...) As coisas só começaram a mudar quando eu me impus e disse que não ia mais aceitar que ficassem passando a mão em mim. Gostaria que você não citasse o meu nome ou o nome do meu grupo, até para evitar desavenças. Um dos líderes do grupo é machista pra caramba e uma vez ele disse que gente como eu (mulher e feminista) não fazia falta no grupo “dele”. (...) Obrigada.
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Assédio. Poucas palavras mexem com as pessoas como essa palavrinha é capaz de mexer. Desde que recebi esse e-mail eu me senti profundamente incomodado. Eu não sou ingênuo para achar que num esporte tipicamente masculino como é o swordplay não haveria machismo ou assédio, mas eu não achava que seria tanto.

Tão logo eu tomei ciência da situação comecei a contatar amigas e conhecidas dentro do jogo. Comecei pelas pessoas que treinam comigo e depois fui expandindo o círculo de pesquisa até chegar a jogadoras de outros estados e até mesmo uma pessoa que morava no Brasil e agora joga nos Estados Unidos. O objetivo deste artigo é, portanto, dar voz a essas meninas que sofreram nas mãos de alguns “swordplayers”. Este é um texto para conscientizar e alertar as pessoas sobre esse problema. Quero deixar claro que nada aqui é “mimimi” ou “frescura”. São todos relatos de dor, sofrimento e humilhação que foram sentidos por outros seres humanos. Não podem (e não irão) ser tratados levianamente.

Por questão de segurança vou chamar todas as meninas deste texto de “Kriger”, que significa “guerreira” em língua escandinava.

Um universo de possibilidades
A primeira coisa que eu descobri quando comecei a pesquisar empiricamente sobre o tem é que não existem duas histórias iguais. Cada menina vê/sente/sofre o assédio de forma diferente, única e intransferível. Cataloguei casos que iam desde relacionamentos doentios que começaram no campo de jogo passando por expressões interessantes como “os meninos alegres” e até meninas que nunca viram/sentiram/sofreram nenhum tipo de abuso. Mas cada relato deve ser reconhecido e tratado em sua particularidade. Se temos grupos onde o assédio não existe temos que pensar o que podemos fazer para que essa boa política se dissemine.

Os relatos a seguir são todos da mesma cidade.

“Abuso? Não, nunca vi e nem senti. Até porque o pessoal do meu grupo é muito focado. Não tem tempo para esse tipo de coisa. Mas se houvesse tenho certeza que o “Mumu” daria um jeito nele”. (Kriger 2)

“Nunca aconteceu comigo”. (Kriger 3)

“Olha, quando eu comecei eu tenho de admitir que eu lutava muito mal. Mas era mal mesmo. Eu era o alvo fácil de todo mundo no campo. (...) Alguns meninos vinham dar abraços com “segundas intenções” depois do treino, ou comentavam que eu deveria ser fácil porque eu “pegava de boas na espada”. As pessoas chegavam a dizer eu estava ali só para conseguir um tipo especial de atenção. Daí eu comecei a agir com “brutalidade”. Eu já era um pouco antissocial mesmo então ninguém estranhou muito. Hoje eu sou bem respeitada no meu grupo”. (Kriger 5)

Você não pode porque é menina
Percebi, ao longo dos relatos, que uma das formas mais comuns de perseguição é a de desmerecer a menina justamente por ela ter características do sexo feminino. Se um menino se deixa levar pelas emoções ele é “esquentadinho”, mas se é uma menina ela é “emocionalmente instável”. Um menino que arruma uma namorada no grupo está sendo “pegador”; se for uma menina, ela não passa de uma “maria-espadinha”. Se o cara é derrotado por uma menina ele diz que “pegou leve” com ela. Esse tipo de coisa é bem mais comum do que se pensa. É o que comumente chamamos de misoginia.

“Eu tinha começado a jogar fazia poucas semanas. Tinha ido com o meu namorado/ficante da época e me apaixonei pelo esporte. (...) Eu fiquei sabendo que haveria um EPS já no começo do mês que vem. Quando eu disse que queria participar do evento foi uma loucura. Disseram que eu não podia porque eu era muito fraca e tinha pouco tempo de treino. Nas palavras deles eu ia ‘manchar a reputação do time’ porque eu era ‘inferior’ aos outros ‘jogadores selecionados’ para participar. Aceitei meio a contragosto até descobrir que um ouro colega de treino, bem mais fraco do que eu tinha sido selecionado para ir ao evento. Quer dizer, eles não se preocupavam se um cara poderia manchar a reputação deles, mas se fosse uma mina era certeza disso acontecer. Fiquei tão chateada com isso que fui ao EPS com um tabardo preto que eu mesma cortei e costurei na véspera. Fui como mercenária. Isso tem três anos. Tem gente do grupo que não fala direito comigo até hoje”. (Kriger 10)

“No meu grupo tínhamos um sistema de graduação bem eficiente. Pelo menos era isso que eu pensava. O teste para sargento acontecia quatro vezes por ano. Eu fui reprovada em todas as quatro vezes. Na última vez eu fui até o sargento que estava conduzindo os testes e perguntei o que eu poderia fazer para melhorar e assim passar no teste. Ele estava distraído e por isso eu acho que ele respondeu com sinceridade: Você tem que nascer de novo, porra! Mas vê se dessa vez nasce como homem, porque enquanto eu for sargento e cuidar da graduação, você não passa. Fiquei arrasada e só não desisti de frequentar o treino por causa de alguns amigos maravilhosos que fiz por lá. Mas nunca mais tente fazer o teste de graduação de novo”.  (Kriger 7) 

“Um dos motivos de eu não ter ido para São Paulo com o pessoal foi justamente o assédio. Um colega veio conversar comigo via chat. A princípio ele queria tratar apenas de assuntos da viagem, sobre swordplay em geral, mas depois ele se mostrou diferente. Ele começou a falar dos meus seios, que por serem muito bonitos e chamativos, ele estava com muita vontade de pegar. No começo achei que se tratava de uma brincadeira sem graça. Eu avisei para ele parar de ser zueiro, mas ele continuou, insistentemente, dizendo que eu já estava avisada. Falou que ele ia pegar mesmo e que não adiantava eu ficar de “cu doce” pro lado dele”. (Kriger 4)

Ataques de onde menos se espera
Outra das coisas que ficou patente é a relação de cumplicidade e conivência que alguns swordplayers têm com os abusadores. Muitos dos abusos aqui relatados aconteceram sob a luz do dia, no campo de treino, com pessoas em volta. Existe um corporativismo muito grande dentro dos grupos de maioria masculina. Muitos deles acham que não tem nada de mais no que é feito e que tudo não passa de “cu doce” ou “mimimi” por parte das meninas. Um paradoxo dessa cultura machista é justamente o desejo que muitos grupos têm de terem mais mulheres jogando. Esse paradoxo leva a criação de uma figura interessante, batizada por uma das entrevistadas de “menino alegre”.

“Então, como eu só vou ao swordplay com o meu namorado, os meninos não chegam nem perto (risadas). Como o grupo que estou atualmente, que é o único que eu conheço, todos me respeitam. E Muito. Eu percebi que eles são bem carentes de meninas. Quando eles veem uma mulher que jogue, eles ficam bem animados. Eu acho engraçado isso, já que eu estudo psicologia. Os meninos querem as meninas jogando, mas eles as querem apenas como objetos de decoração. Por isso que eu acho que tem meninos que forçam a barra, sabe? Eles ficam rodeando as meninas cheios de boa vontade e disposição, mas tiram uma casquinha na primeira oportunidade. Eles não sabem, mas a gente percebe. Eles são os meninos alegres”. (Kriger 11)

“O meu antigo rei parecia um cara muito bacana... mas só parecia. Uma vez quando estávamos sozinhos, ele sussurrou no um ouvido: ‘se eu me separar da minha esposa, vou dar em cima de você e vou te mostrar o que é ser um homem de verdade’. Eu fiquei passada. (...) você acredita que em outra ocasião ele quis se meter na vida amorosa de dois colegas de treino? Eu achei o ó.” (Kriger 12)

“Num evento desligado do swordplay, um clã especifico foi mostrar e vender equipamentos num evento do Ibirapuera. E eu fui dar uma olhada, com a minha lança própria e tudo. Conversa vai, conversa vem, já me soltam essa ‘ah, mas a lança tá bem ruim né? Eu sei que é meio difícil pra menina fazer arma bonita, cê não quer que eu conserte ela pra você?’ Como se tivesse algum nexo, sabe? A minha lança foi feita pelo nosso armeiro, que é muito talentoso, com a minha ajuda. Fizemos juntos por que o EPS tava chegando e ele queria me incentivar a continuar treinando. E ela é completamente funcional, eu fiquei ofendida pra caramba. (...) Aí logo depois eu fui treinar com alguns lanceiros do mesmo clã. Tiramos uns x1 e conforme eu ia ganhando, cada vez mais incrédulos eles iam ficando. O cara chegou ‘até que pra uma menina você sabe usar lança, parece homem’. SEM BRINCADEIRA. E pelos esportes que eu fiz, eu já fui tão chamada de homem que eu não aguentei e revidei ‘Não pareço homem, eu só sou mulher que é melhor que muitos caras’. E ele ficou com aquela cara de ‘Ah, tanto faz’.” (Kriger 14)

“Uma vez fui num evento com vários grupos aqui em Brasília. Eu lutei com um cara e ele elogiou muito o meu jeito de lutar. Tiramos vários x1. Teve uma hora que começamos a andar em volta do evento. Esse garoto passou o braço pelo meu ombro e começou a conversar todo íntimo, me elogiando. Ele tava caminhando pra uma outra parte do bosque e eu na conversa não tava percebendo. Ai quando eu percebi ele tava praticamente na minha cara. O XXXXXXX que teve que me tirar de lá. Depois que ele me viu de novo ele falou ‘O cara era seu namorado? Pede desculpas pra ele pra mim’. Como se ele não devesse nada pra mim.” (Kriger 16)

“O principal problema comigo não foi o assédio dos ‘garotos felizes’ (gostei desse termo, vou usar!) foi mesmo ter minha moral e o respeito dos membros do grupo jogada na lama. Eu não sou uma mulher que gosta de ser tratada como donzela, muito menos ter minhas ideias menosprezadas, minha personalidade barraqueira começou a se destacar por brigar pelos meus pontos de vista, chegando até ser ignorada por um dos líderes e que até hoje não faz questão que eu frequente os treinos.” (Kriger 15)

“Minha formação de Swordplay começou no XXXXXXXX, em XXXXXXXX. Fiquei anos treinando com a galera, o que foi muito legal. Daí surgiu uma oportunidade de trabalho e me mudei para os EUA. Descobri um grupo que se reunia semanalmente perto de casa. Um grupo filiado ao Dagorhir. Quando eu fui lá fazer a minha inscrição perguntaram o que eu queria fazer: se era para ser dama de companhia, costureira, ajudante de ferreiro... eu disse que queria lutar e focaram espantados. Eles são muito machistas e fazem questão de ‘bater com força’ nas meninas. Mas não deixo por menos. J uma vez um dos caras quase trinca minhas costelas. Eu só sosseguei quando derrotei ele num torneio, ano passado.” (Kriger 20)

Tem muito mais disso aqui.
Eu tenho muito mais relatos. Mas resolvi deixa-los de fora porque o texto já está grande demais e acho que todo mundo já entendeu. Precisamos trabalhar por uma solução. Assim, essa solução passa necessariamente pela busca de uma melhor gestão do esporte e de suas relações dentro dos diversos grupos, que deve ser feita coletivamente. Isso exige que os problemas sejam enfrentados de forma sincera e organizada, por todos aqueles que estão submetidos a esta estrutura. A denúncia e punição dos assediadores é bastante importante, pois cessa a violência exercida pelo membro em questão, além de demonstrar cada vez mais à toda todos os swordplayers que as mulheres não estão submissas a essas violências e que o assédio não sairá impune.

Enfim, dado o fato do assédio ser sistêmico, constituindo-se como um problema de toda a classe dos jogadores de swordplay, o combate a ele tem de ser, também, coletivo. Todos sofrem com o assédio, seja como vítima, como testemunha, seja pelo medo de poder vir a ser o/a próximo/a assediado/a. Por isso é crucial a solidariedade e ação coletiva para acabar com esta prática, fortalecendo os jogadores contra esses assediadores.


Resumindo... Enfim, a luta é muito grande e há muito o que fazer, porém se a categoria de jogadores de swordplay estiver unida e lutar junto é possível acabar com esse mal, que cresce no nosso meio. Se você está sendo assediado, procure os líderes do seu grupo, ou alguém que você confie. A união é um importante instrumento na luta contra os casos de violência no esporte. 

domingo, 11 de setembro de 2016

Acidentes acontecem... ou não?

De acordo com o dicionário informal, acidentes são “qualquer acontecimento inesperado, desagradável ou infeliz que envolva dano, perda, sofrimento ou morte”. Segundo esta definição ao pé da letra, quando você está andando na rua e dá aquele tropeço numa pedra solta e deixa seu celular ir ao chão, trincando a tela, o que houve foi um infeliz acontecimento; quando você, sem querer, chuta a bola com muita força e ela estoura a janela daquela vizinha mal encarada também é um acidente; quando você troca o nome da sua ficante pelo nome da “ex”, também é um acidente (este aqui capaz de provocar até mortes).     

Mas eu tenho um amigo que é especialista em segurança do trabalho e ele diz que mais de 90% dos acidentes não evitáveis justamente porque eles são fruto da ação humana: negligência, imprudência e imperícia. Um pai de família resolve viajar com sua família, mesmo sabendo que o carro não passou por uma boa revisão. Daí os freios falham numa curva e todos morrem ribanceira abaixo. Óbvio que o pai não tinha intenção de matar sua família, mas foi isso que aconteceu porque ele negligenciou o cuidado com o seu veículo. Quando você está distraído e dá ré no carro sem olhar e atropela um pedestre é imprudência. Quando um médico libera um paciente com o diagnóstico de gases e depois o paciente descobre que estava com calculo renal, o médico falhou. Ele estudou durante aos e deveria saber a diferença sintomática e diagnóstica de cálculo renal e de gases.

E o que isso tem a ver com o swrodplay? Simples. Temos um esporte de contato em nossas mãos. Basta que se somem um conjunto de pequenas negligências, imprudências e imperícias para que os famosos “acidentes” aconteçam.

Tome por exemplo o que aconteceu num dos treinos de setembro de 2016 no reino dos cavaleiros da virtude. Durante o combate na linha, a lança do hoplita subiu atingindo o rosto da lanceira, abrindo o supercílio dela. Um terrível acidente, não?

Não. Quando o hoplita deixou a lança subir na direção do rosto da lanceira tivemos imperícia. A falta de manutenção da arma, causada pela negligência dos armeiros do reino, permitiu que o cano saltasse fora da cobertura de espuma e machucasse a lanceira. Mesmo antes, quando o hoplita aceitou lutar com uma lança que já estava insegura, ele assumiu o risco de machucar os colegas de treino. Sei que parece um pouco duro o que eu disse até porque toso os envolvidos são amigos queridos e tudo o que eu não queria era ver qualquer um deles feridos. Claro que ninguém faz isso com o propósito de machucar alguém. “Ah vou deixar o core da minha espada solta dentro da espuma para quando atingir o coleguinha machucar bastante, bawawawawaw!”. Mas precisamos redobrar nossas atenções e vigilância para que esse tipo de coisa fique relegado ao mínimo possível.


Então, é nosso deve deixar de sermos negligentes, imperitos e imprudentes. Era isso. Até mais ver.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Na forja da gatosa

Olá amigos,

Como vocês devem saber eu sou um cliente da forja “Gatosas de Prata” aqui em Brasília. Apesar de achar o nome meio estapafúrdio e de achar o lema deles impropagandeável (“quer ficar gato?”) é inegável a qualidade de seus produtos.

Encomendei com eles uma espada em outubro de 2015. Os resultados da encomenda podem ser lidos aqui: http://swordplaydobetao.blogspot.com.br/2015/10/quer-bem-feito-busque-um-profissional.html. Eis que, quase um ano depois, eu precisei de reparos na ponta da espada. Mandei uma mensagem para o Victor e ele foi categórico: “Passa aqui que a gente arruma sua espada. Sem custo algum.” Isso é que é garantia estendida.

Quando você pensa em um ferreiro de espadas logo surge na sua cabeça a imagem icônica de um sujeito forte, musculoso, suado e mal encarado. Algo como  Eorlund Gray-Mane (Skyrin) ou quem sabe, mais modernamente o Tony Swatton do canal man at arms do youtube.com. A última coisa que você espera encontrar é um magrelo de óculo de grau, com trancinha de padawan em treinamento de Star Wars, atendendo no quarto dele, direto da asa sul (bairro em Brasília).

Victor é um desses caras que vale à pena ter na sua agenda de profissionais. Com “P” maiúsculo. Ele está sempre buscando novas formas de fazer as espadas, novas formas de fazer a guarda, o pomo, a ponta. A maneira como ele monta as espadas é simples e ao mesmo tempo muito inteligente, criando um formato mais próximo das espadas de verdade. Anos-luz a frente de qualquer outro ferreiro aqui em Brasília e região. Aliás, ele não deixa nada a desejar, nem mesmo das famosas espadas americanas. O trabalho do cara é sensacional.

No tempo que fiquei por lá ele me mostrou alguns projetos novos e falou das novas técnicas de construção. Ele me disse também que não usava mais o modelo de construção de espadas que ele usou na minha espada longa. “Ah Betão, esse modelo de construção é obsoleto. O que usamos hoje deixa a lâmina mais reta, mais macia e com menos efeito chicote. E mesmo esse que usamos hoje vai mudar em breve. Já estamos testando espadas no novo modelo de forja”.

A espada do meu colega de treinos, Manassés, estava lá, em fase de finalização. É uma espada “de cosplay”, segundo as palavras do Victor. “Eu nem se ainda porque é que eu ainda pego essas coisas de cosplay/anime”, comentou ele. “Deveria cobrar mais caro por esse tipo de coisa. Olha o trabalho que dá!” disse ele, rindo muito.



É... eu sei que este post está soando como aquelas propagandas da Polishop, mas não é o caso... mesmo. Quando o trabalho é bem feito temos mais é divulgar, não só para mostrar a gratidão ao ferreiro como dar a ele mais trabalho. É isso. Nos vemos em breve, gente bacana.


A Importância da Malícia e da Cautela nas Relações Sociais no Swordplay

Na complexidade das relações humanas, é inevitável que, independentemente de quão bons sejamos e de quanto nos importemos com os outros, sem...